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"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira!" CHE

Mobilização na Paulista

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Integrantes da Célula na mobilização da Paulista

Mobilização na Av. Paulista

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Cerca de 40 mil professores da rede Estadual de ensino tomaram à Av. Paulista nesta sexta dia 12/03/2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Trololó na TV Cultura e mais

"http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=597IPB010"

Trololó na TV Cultura

Por Nelson Hoineff em 12/7/2010

A bola queimou para a TV Cultura, com as demissões dos jornalistas
Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli. Explicações complicadas terão que
ser dadas pelo candidato à presidência José Serra – acusado de ter
pedido a cabeça dos jornalistas – e pelo vice-presidente de conteúdo
da emissora, Fernando Vieira de Mello, recém-chegado por lá, após ter
sido afastado da Band.

Como já é amplamente sabido, as duas demissões supostamente têm na
base questionamentos feitos pelos jornalistas ao alto preço dos
pedágios nas estradas de São Paulo – Barbeiro no Roda Viva, onde Serra
considerou a questão um "trololó petista"; Priolli em reportagem para
o Jornal da Cultura, e que sequer estava editada.

Barbeiro era um nome importante do jornalismo da Cultura havia muitos
anos; foi editor, repórter, apresentador e âncora. Priolli teve várias
passagens pela emissora, mas tornou-se diretor do Jornalismo apenas
cinco dias antes de ser demitido. É possivelmente um recorde mundial,
que deixa para a TV Cultura uma questão que ela tem que responder com
urgência: ou o novo diretor de Jornalismo, que a emissora conhecia bem
em várias outras funções, demonstrou uma inadequação meteórica para o
cargo, ou a emissora cedeu mesmo, como escreveram Luis Nassif e outros
jornalistas, às exigências do candidato tucano.

Diálogo de répteis

Se isso não é envaidecedor para José Serra, é muito menos para a
emissora. Menos ainda para a utopia de se construir uma televisão
pública livre no Brasil. O incidente deixa a TV Cultura numa situação
visivelmente constrangedora, mas impacta enormemente o debate que
vinha acontecendo – especialmente desde a criação da Empresa Brasil de
Comunicação (EBC) – sobre a possibilidade de sobrevivência do
jornalismo independente numa televisão pública.

A principal razão para isso é que a própria Cultura vinha ironicamente
sendo apontada como um modelo bem sucedido dessa possibilidade. Isso
em oposição à EBC, que como empresa alegadamente ainda não conseguiu
decolar, cujo jornalismo foi esfacelado há tempos, onde essa história
de independência é uma balela.

Em vista do experimentado pela EBC – e à luz do que acontece neste
momento na TV Cultura –, televisão pública e jornalismo independente
parecem ser no Brasil expressões mutuamente excludentes. Mas se o
jornalismo não é independente numa televisão pública, não ofenderá
perguntar:

– A quem interessa, então, uma televisão pública, e por que os
governos investem tanto dinheiro nelas?

A possibilidade de construção de uma televisão pública livre, original
e relevante é inversamente proporcional ao nível de promiscuidade que
possa existir entre governos e seus partidos e os mecanismos de gestão
dessas emissoras. Se for comprovado que o PSDB demitiu dois
jornalistas da Cultura por terem feito perguntas sobre os pedágios das
estradas paulistas, isso autorizará a EBC a afastar quem se posicione
criticamente a qualquer ação do governo Lula. Tal quadro estaria
alguns pontos abaixo de um diálogo de répteis – subvencionado pelo
dinheiro da sociedade brasileira.

Fundo do poço

A sociedade tem que saber imediatamente se Heródoto Barbeiro e Gabriel
Priolli foram de fato demitidos por ordem de José Serra. Se não, por
que o foram, que tipo de erros contundentes ambos cometeram – até
porque são nomes conhecidos pelo público e respeitados no ambiente
profissional.

A sociedade tem também que saber quem está ganhando dinheiro público
nas emissoras públicas para não lutar por sua independência e, pelo
contrário, torná-las mais e mais subservientes aos interesses dos
políticos.

Relações promíscuas com vários setores estão no DNA de muitos
políticos – não refiro a qualquer um em especial – e isso talvez não
possa ser combatido com tanta facilidade. Mas "laranjas" que são
postos nas televisões públicas que o povo está pagando – e que as
colocam a serviço do atraso, que as lançam ostensivamente no
descrédito público –, estes devem ser combatidos e denunciados por
quem quer que defenda a possibilidade de uma imprensa equilibrada, de
uma televisão pública independente e voltada para o interesse público.

Ser conivente com isso é jogar a televisão brasileira no fundo do
poço, é trair os mais elementares ideais libertários.

***

ENTRE ASPAS

Sayad nega ingerência política na TV Cultura

Sonia Racy e Jotabê Medeiros # reproduzido de O Estado de S.Paulo, 12/7/2010

O presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, negou ontem
[domingo, 11/7] ter havido motivação política no afastamento de
Gabriel Priolli da Diretoria de Jornalismo da TV Cultura. Ele alegou
que Priolli não tinha o perfil adequado para o cargo na emissora,
gerida pela fundação.

"Foi uma escolha equivocada", afirmou Sayad. Jornalista experiente,
com passagem por alguns dos principais jornais e televisões do Brasil,
Priolli trabalha para a TV Cultura há mais de uma década e permaneceu
apenas uma semana no cargo.

Seu afastamento alimentou a suspeita de ingerência política na
emissora pública ligada ao governo de São Paulo. Segundo versão
amplificada pela internet, Priolli foi afastado do posto por orientar
a produção de uma reportagem sobre as tarifas de pedágio nas estradas
estaduais, tema abordado com insistência pela campanha do PT ao
governo paulista.

O jornalista preferiu não se manifestar sobre o episódio: "Vou manter
silêncio, pois ainda sou funcionário da TV Cultura". O destino de
Priolli dentro da emissora deve ser definido hoje, em reunião com o
vice-presidente da fundação, Ronaldo Bianchi. Tanto a nomeação quanto
a destituição de Priolli foram comunicadas a ele pelo diretor de
Conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello.

O seção paulista do PT anunciou que vai pedir ao Ministério Público
Eleitoral que investigue o afastamento de Priolli. O candidato do
partido ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, foi entrevistado
para a reportagem sobre pedágios, assim como o candidato do PSDB,
Geraldo Alckmin.

***

Pedágio na Cultura

Fernando de Barros e Silva # reproduzido da Folha de S.Paulo, 12/7/2010

Começou mal, muito mal, a gestão de João Sayad à frente da TV Cultura
de São Paulo.

Na quarta-feira da última semana, confeccionava-se, para o jornal
noturno da emissora, uma reportagem sobre os pedágios paulistas, aos
quais o próprio candidato tucano ao governo, Geraldo Alckmin, havia
feito reparos. No início da noite, o diretor de jornalismo da TV
Cultura, Gabriel Priolli, foi chamado à sala de Fernando Vieira de
Mello, vice-presidente de conteúdo.

Ali ouviu a bronca: a TV não poderia se ocupar de assunto tão delicado
sem o seu conhecimento prévio. Vieira de Mello ecoava um protesto que
tinha origem em algum escaninho da burocracia tucana.

A reportagem não foi ao ar naquela noite. E Priolli foi afastado de
suas funções na tarde de quinta-feira. Durou uma semana no cargo.

Consta que a reportagem sobre os pedágios foi exibida na noite de
sexta, feriadão de 9 de julho. E alega-se que foi derrubada na
antevéspera porque estava "mal feita". Ninguém deve ter visto o
resultado final. Como quase ninguém teria visto se fosse exibida na
quarta.

A verdade é que a Cultura é uma TV mais lida do que assistida. Os
próprios conselheiros da Fundação Padre Anchieta acompanham a emissora
pela imprensa.

A saída de Heródoto Barbeiro do "Roda Viva" nada tem a ver com a
pergunta que ele fez no programa a José Serra uma semana antes
-justamente sobre pedágios. A sua substituição por Marília Gabriela já
estava acertada pela direção. Mas, ao enviar Priolli para a Sibéria,
os tucanos conseguiram transformar uma mentira em algo verossímil.

O episódio escancara a ingerência política do tucanato na TV pública
de São Paulo. Quando uma reportagem sobre pedágios vira questão de
Estado, então é melhor fechar o departamento de jornalismo e exibir
"Cocoricó", onde ao menos as crianças são levadas a sério.

***

Diretor de jornalismo da Cultura é afastado

Ana Paula Sousa # reproduzido da Folha de S.Paulo, 10/7/2010

Após uma semana no posto, o jornalista Gabriel Priolli deixou de ser
diretor de jornalismo da TV Cultura. A decisão, tomada pelo jornalista
Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo da emissora,
alimentou boatos a respeito da ingerência política sobre o canal.

No final da tarde de quinta-feira [8/7], Mello chamou Priolli à sua
sala para comunicá-lo do afastamento. Priolli, que já era funcionário
da Cultura, disse, à Folha, que preferia não falar sobre o episódio.

Nos corredores da emissora e na blogosfera, circula a informação de
que, por trás da saída de Priolli, está uma reportagem sobre problemas
e aumento nos pedágios.

A reportagem teria sido "derrubada" – jargão para o que não é
veiculado – por Mello. "A reportagem não foi ao ar na quarta-feira por
uma razão simples: não estava pronta", diz Mello.

"Eram ouvidos só [Geraldo] Alckmin e [Aloísio] Mercadante. Em período
eleitoral, somos obrigados a ouvir todos os candidatos. Foi isso que
fizemos", acrescenta.

De acordo com ele, o material iria ao ar ontem [9/7] à noite, no
Jornal da Cultura.

Dias antes, outra dança de cadeiras originou rumores sobre a
influência do governo estadual sobre a TV.

Segundo estes, Heródoto Barbeiro teria sido substituído por Marília
Gabriela no Roda Viva por ter feito uma pergunta incômoda a Serra.

A TV atrela a mudança à busca de uma "nova cara" para o canal. Mello
observa, ainda, que nem Priolli nem Barbeiro foram demitidos. Ambos
devem assumir novas posições na emissora.

domingo, 11 de julho de 2010

Serra ordena demissões na TV Cultura

Por Altamiro Borges em 09/07/2010

Assista o vídeo: "http://www.youtube.com/watch?v=ZK4s6KaUdzc"

Dois renomados jornalistas da TV Cultura, tutelada pelo governo paulista, foram demitidos nos últimos dias: Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli.

Por mera coincidência, ambos questionaram os abusivos pedágios cobrados nas rodovias privatizadas do estado. A mídia demotucana, que tanto bravateia sobre a “liberdade de expressão”, evita tratar do assunto, que relembra a perseguição e a censura nos piores tempos da ditadura. Ela não vacila em blindar o presidenciável José Serra.

Heródoto Barbeiro, apresentador do programa Roda Viva, foi demitido após perguntar, ao vivo, sobre os altos pedágios. O ex-governador Serra, autoritário e despreparado, atacou o jornalista, acusando-o de repetir o “trololó petista”. Heródoto será substituído por Marília Gabriela, uma das estrelas da Rede Globo. Já Gabriel Priolli, que assumira a função de diretor de jornalismo da TV Cultura apenas uma semana antes, foi sumariamente dispensado ao pautar uma reportagem sobre o “delicado” assunto, que tanto incomoda e irrita os tucanos.

Risco à liberdade de expressão

Sua equipe chegou a entrevistar Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante, candidatos ao governo paulista. Mas pouco antes de ser exibida, a reportagem foi suspensa por ordens do novo vice-presidente de conteúdo da emissora, Fernando Vieira de Mello. “Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre viagens dos candidatos” e “Priolli foi demitido do cargo”, relata o sempre bem informado Luis Nassif, que também foi alvo de perseguições na TV Cultura.

Entre os jornalistas, não há dúvida de que mais estas demissões foram ordenadas diretamente por José Serra. Nas redes privadas de rádio e TV e nos jornalões e revistonas, o grão-tucano goza de forte influência. Ele costuma freqüentar as confortáveis salas dos barões da mídia. Ele também é conhecido por ligar para as redações exigindo a cabeça de repórteres inconvenientes. Depois os tucanos e a sua mídia ainda falam nos ataques à liberdade de expressão no governo Lula.

“Para quem ainda têm dúvidas, a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder da mídia, que já tem o poder de Estado”, alerta Nassif. Aguarda-se, agora, algum pronunciamento de Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli sobre o ditador José Serra, para o bem da dignidade dos jornalistas e do jornalismo.


Matéria original do blog do Luis Nassif, 08/07/2010 às 22h25,
"http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/pedagio-derruba-mais-um-jornalista-da-tv-cultura"


Pedágio derruba mais um jornalista da TV Cultura

“Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV Cultura.

Ontem [quarta 07], planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram ouvidos Geraldo Alckmin e Aluizio Mercadante, candidatos ao governo do estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial.

Acabaram não se pronunciando.

Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre as viagens dos candidatos.

Hoje, Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana. Semana passada foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra.

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E olha o descaso de Serra

http://www.youtube.com/watch?v=ZK4s6KaUdzc&feature=player_embedded

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Serra critica movimentos sociais e promete ampliar fronteiras agrícolas

Por Fábio M. Michel


São Paulo – O candidato do PSDB à presidência da república, José Serra, fez críticas ao Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a outras organizações sociais que lutam por reforma agrária. Também disparou contra ONGs ambientalistas, acusando-as de “terrorismo”. As afirmações foram feitas nesta quinta-feira (1º), durantesabatina organizada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Brasília. Dos três principais concorrentes ao Planalto, ele foi o único presente ao evento (confira box).
O evento teve presença maciça de senadores e deputados da bancada ruralista no Congresso, além de representantes de setores do agronegócio e do recém-promovido candidato a vice-presidente na chapa de oposição, deputado Indio da Costa (DEM-RJ). A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA, abriu a sabatina, apontando o que considera entraves ao pleno exercício do livre-mercado da agricultura e da pecuária.
Suas críticas passaram pela atuação dos movimentos sociais ligados à posse da terra, como o MST e a Contag, pelos gargalos de infraestrutura para o escoamento da produção, a carga tributária incidente sobre insumos e sobre a comercialização dos produtos agrícolas e pelo que chamou de “terrorismo ambiental”, referindo-se à defesa, por ONGs e movimentos sociais, de áreas de preservação, territórios indígenas e quilombolas etc.
“O importante é que devemos buscar a prevalência da competitividade. Estamos abrindo mão de áreas altamente produtivas em nome da preservação”, prometeu. Uma das principais demandas dos ruralistas é a ampliação da fronteira agropecuária, especialmente no Norte e Centro-Oeste, sobre áreas da Amazônia Legal.
Aridez e promessas
Mesmo sem entusiasmar os presentes, Serra fez promessas que provocaram aplausos. Entre elas, a de que vai investir no que chamou de “defensivo (agrícola) genérico”. Sem entrar em detalhes, ele justificou a premissa dizendo que o mercado desse tipo de insumo “está muito oligopolizado”, controlado por um grupo pequeno de empresas – fenômeno que ocorre também no mercado internacional.
O tucano afirmou também que vai criar um seguro e garantia de preço mínimo para a produção e que, se eleito vai acumular os cargos de presidente e de superintendente do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). A “promessa” foi feita ao responder a um produtor rural instalado naquela região, que se queixava do rigor dos monitoramentos por satélite, que normalmente indicam grande quantidade de focos de desmatamentos ilegais.
Barulho
No último bloco da sabatina, Serra foi questionado se achava possível e como faria para resolver os conflitos de interesses entre o agronegócio e as questões ambientais. Foi o único momento em que o candidato mostrou-se incomodado. “A Marina estava certa em querer saber as perguntas antes”, esbravejou.
A resposta foi evasiva, mas mostrou que ele preferiu agradar, ao menos parcialmente, os presentes. “Acredito na razão. Tem que ter um projeto e ouvir os representantes de todos os lados. Estas questões têm que ter um encaminhamento objetivo. Tem setores que defendem interesses pequenos, mas são barulhentos. Acredito em buscar um jogo de soma positiva, em que todos os lados ganham”, ponderou.
Escorregada
Serra saiu em defesa de Índio da Costa, após a conturbada escolha de seu vice na convensão do DEM. O tucano também cometeu uma gafe com seu mais novo parceiro. “O Indio foi um namorador, não sei se continua… hoje ele só tem uma namorada. Ele me disse por telefone ‘não tenho amantes’. Eu disse ‘não precisa exagerar, mas tem que ser uma coisa discreta’. Não estou pregando aqui pular cerca no casamento, mas também não precisa exagerar”, comentou Serra, ao falar sobre a ex-mulher de Índio da Costa, Rafaella Cacciola, que é filha do banqueiro Salvatore Cacciola, condenado a 13 anos de prisão pelos crimes de peculato e gestão fraudulenta.
Costa a deixou, casou-se novamente e outra vez separou-se. Os tucanos a tratam com ex-namorada do candidato a vice na chapa de Serra.


(Da Rede Brasil Atual.)
A Agentes da Cidadania pede passagem:
"www.agentesdacidadania.org.br"

domingo, 27 de junho de 2010

Governo paulista autoriza aumento em 135 praças de pedágio

Foi confirmado neste sábado (26/06) o aumento dos pedágios paulistas no dia 01 de julho. O percentual varia entre 4,18% para os antigos lotes (12) e 5,22% para os novos(6). No total o aumento está confirmado para 135 praças de pedágio, de 18 concessionárias paulistas. Em 80 praças os pedágios terão valores quebrados, com valores que terminam em R$ 0,05 (cinco centavos).

Em rodovias de grande fluxo como Anhanguera e Bandeirantes o motorista irá pagar R$ 6,35 na maioria das praças, contra R$ 6,20 cobrados atualmente. No Rodoanel Oeste passará de R$ 1,30 para R$ 1,35.Na Imigrantes e Anchieta os pedágios que agora são de R$ 17,80 passará para R$ 18,50 confirmado neste sábado (26/06) o aumento dos pedágios paulistas no dia 01 de julho. O percentual varia entre 4,18% para os antigos lotes (12) e 5,22% para os novos (6). No total o aumento está confirmado para 135 praças de pedágio, de 18 concessionárias paulistas. Em 80 praças os pedágios terão valores quebrados, com valores que terminam em R$ 0,05 (cinco centavos).

Envolve as seguintes concessionárias de rodovias:
Autoban,Tebe, Intervias, ViaNorte, Centrovias, Triângulo do Sol, Autovias, Renovias, ViaOeste, Colinas, SPVias, Ecovias, Rota das Bandeiras, Cart, Via Rondon, Rodovias do Tietê, Ecopistas, Rodoanel Oeste. Portanto, são 18 lotes de concessão de rodovias.

Como haverá muitos casos de valores com R$ 0,05 (cinco centavos), as concessionárias acreditam que isso irá prejudicar o fluxo e o presidente da entidade que as representa, Moacyr Duarte, da ABCR, disse á imprensa de São Paulo que é fato grave e representa quebra de contrato, pois havia previsão de arredondamento para mais ou menos, evitando o valor quebrado.

Em rodovias de grande fluxo como Anhanguera e Bandeirantes o motorista irá pagar R$ 6,35 na maioria das praças, contra R$ 6,20 cobrados atualmente. No Rodoanel Oeste passará de R$ 1,30 para R$ 1,35.Na Imigrantes e Anchieta os pedágios que agora são de R$ 17,80 passará para R$ 18,50

domingo, 13 de junho de 2010

Sonho de Serra é fazer do Brasil uma grande Colômbia

Escrito por Sérgio Cruz, Hora do Povo
11/06/2010




O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, voltou a atacar a Bolívia e fez rasgados elogios ao governo da Colômbia, que tem várias denúncias de envolvimento com o tráfico de drogas. Suas declarações foram feitas na terça-feira em São Paulo onde participou de um debate. Ele disse que o governo Uribe, ao contrário do da Bolívia, “não faz corpo mole” no combate ao fornecimento de drogas para o Brasil.

Logo a Colômbia, que é campeã mundial da cocaína, segundo destaca a UNODC – United Nations Officer on Drugs and Crime, em seu relatório de 2009, apontando esse país como o maior exportador da droga no mundo, sendo responsável por 51% de toda a produção mundial. Em 2008, o órgão já apontava o aumento do tráfico de drogas a partir da Colômbia e Afeganistão. “Os grandes aumentos registrados ultimamente da oferta de narcóticos procedentes da Colômbia e Afeganistão podem fazer com que as taxas de consumo de drogas subam por causa da queda dos preços e da maior pureza das doses”, explicou o diretor do UNODC, Antonio Costa.

Cerca da metade dos integrantes do governo (Colombiano) - membros da família Uribe, inclusive - foram denunciados, e alguns até presos, por terem campanhas eleitorais financiadas pelo narcotráfico. Serra havia dito na semana passada que o governo do presidente Evo Morales era “cúmplice” no tráfico de drogas para o Brasil.

Mas não é só Uribe que fascinou o candidato tucano. Ele revelou também simpatias pelo ministro da Defesa da Colômbia, e atual candidato à presidência daquele país, Juan Manoel Santos. A administração de Manoel Santos ficou marcada pelo escândalo de jovens assassinados por militares, que apresentavam orelhas de pessoas mortas como se fossem guerrilheiros abatidos em combate para receber benefícios, tais como folgas nos finais de semana, no caso conhecido como “falsos positivos”.

Além disso, segundo a revista Newsweek, em artigo de agosto de 2004, Álvaro Uribe, o queridinho de Serra, tinha ligações com o narcotráfico e com o Cartel de Medellín. “Um relatório liberado pelos serviços de inteligência do Departamento de Defesa dos EUA, datado de setembro de 1991, mostra uma lista que inclui o cabeça do cartel de Medellín, Pablo Escobar. O número 82 da lista é ninguém menos do que Alvaro Uribe Velez – ‘político e senador colombiano dedicado à colaboração com o Cartel de Medellín a partir dos altos escalões governamentais”, diz o artigo. Essas são as referências de José Serra.

Dilma solta o verbo

A pré-candidata do PT fala sobre continuidade, drogas, o papel do Estado, reforma agrária e, por que não?, seu novo visual



Um enorme painel da candidata ao lado de seu mentor, o presidente Lula, punhos cerrados no ar, emoldura o cenário da entrevista. Dilma Rousseff posta-se bem à frente da própria imagem. Desconfortável no início com perguntas pessoais, ela se solta aos poucos, enquanto defende as realizações do atual governo e explica o que pretende fazer se eleita. Basicamente, aprofundar o processo de inclusão social que, afirma, não se esgota em um ou dois mandatos. Talvez por isso, ao se referir a uma eventual gestão sua, prefira a palavra “período”. No centro desse “período”, promete, estará o compromisso de levar o País ao clube das nações desenvolvidas, com a erradicação da miséria, o foco na educação e na cultura. “Minha meta é levar nossa população à classe média, no mínimo.”

Dilma não é Lula. É uma discípula, uma aluna. Mas uma aluna aplicada, vê-se. Como nunca disputou eleição, a ex-ministra da Casa Civil replica o “mestre” ao usar o recurso de contar historinhas nas respostas por vezes pouco concisas. Também se percebe na candidata o cuidado de evitar certas polêmicas durante a campanha, o que não inclui fugir às perguntas sobre seu envolvimento na luta armada durante a ditadura. “Tenho muito orgulho de ter resistido do primeiro ao último dia.”

Alvo de seguidas denúncias, nunca comprovadas, desde que Lula anunciou ser ela a sua candidata ao governo, afirma não acreditar que a imprensa brasileira seguirá o exemplo da venezuelana e se tornar cada vez mais hostil diante da possibilidade crescente de permanência do PT no poder. Por ser contraproducente. “De que adianta? Mais do que somos criticados, e daí?” Na entrevista, a pré-candidata disse ser contra a descriminalização das drogas, defendeu a reconstrução do Estado e repeliu os estereótipos. “Nunca me senti uma pessoa infeliz. Não sou carente, sou alegre.”

CartaCapital: Neste ano, o Brasil pode escolher a primeira mulher presidente. Faz diferença?
Dilma Rousseff: Faz toda a diferença, porque tem uma história de poucos direitos para as mulheres. Até o direito de voto para as mulheres é muito recente no Brasil, menos de cem anos. E ainda têm grandes desigualdades, que vão desde – apesar de as mulheres terem maior nível de escolaridade – ganhar dois terços do salário dos homens até o fato de existir violência familiar contra a mulher. Outro dia aproximou-se de mim um casal jovem, o rapaz carregava um menino de uns 3 anos, e a mulher, uma moça loira, vinha com uma menina, de vestido comprido, bonitinha, cabelo encaracolado. Chamava Vitória. E a mãe falou assim: “Eu trouxe a Vitória para que você diga a ela que as mulheres podem, que mulher pode”. Eu olhei pra Vitória e perguntei: ‘mulher pode o quê?’ E ela: “ser presidente”. Eu disse: ‘Vitória, mulher pode ser presidente. Porque isso faz parte do sonho que toda criança tem: quero ser pirata, toureiro. Mas também pode querer ser presidente e mulher nunca quis. Uma menina que quer é sinal dos tempos. E ela se chama Vitória, achei simbólico’.

CC: Mas existe um modo feminino de governar?
DR: Tem um modo feminino inegável na vida privada. Nós cuidamos, providenciamos e incentivamos. É interessante levar isso para a vida pública. Vou contar outra historinha. Foi uma senhora, de seus 50 anos, a um sindicato, muito incomodada com a oposição homem e mulher. E ela sintetizou o problema da seguinte forma: “Somos 52% da população, mas os outros 48% são nossos filhos. De maneira que, se formos presidentes, fica tudo em casa. Ou seja, damos conta de cuidar das mulheres e dos homens, até porque a nossa relação com os homens não é de oposição. O olhar feminino não é excludente”.

CC: Já foi, nos primórdios do feminismo.
DR: Talvez no começo, porque, sempre que se afirma alguma coisa, torna a diferença muito forte. A mulher, para ter consciência de que era discriminada, teve de fazer esse movimento. Mas não acredito que, hoje, esse seja um processo que crie diferenciação, desigualdade. Nenhuma política feminina é uma política anti-homem.

CC: Curiosamente, a senhora tem avançado menos no eleitorado feminino. Por que acha que isso acontece?
DR: Acho que tem razão o (cientista político) Marcos Coimbra. Ele fez uma avaliação correta: há o fato de a mulher não ter tanto acesso à informação quanto o homem. Muitas ainda não me conhecem. Quando se separa o universo das mulheres que me conhecem e as que conhecem o outro candidato, eu tenho mais aprovação do que ele.

CC: A senhora falou da menina que queria ser presidente, mas costuma dizer que este nunca foi um sonho seu. Agora que é candidata, acalenta algum projeto?
DR: Caminhar para que este seja um país desenvolvido. Foi o que o presidente Lula construiu e que a gente pode fazer.

CC: Se formos resumir, a marca do governo Lula é a inclusão. Qual seria a marca de um governo Dilma?
DR: Por que não pode ser a da inclusão também? Essa ânsia de novidade encobre uma questão seriíssima: este ainda é um país emergente, com um grau grande de desigualdade, e que pode, a partir de agora, porque acumulamos um conjunto de conquistas, trilhar o caminho do desenvolvimento. E isso não pode ser só com uma taxa de crescimento do PIB determinada, uma política de estabilidade macroeconômica. A minha meta é erradicar a miséria, levar nossa população, os mais pobres, à classe média, no mínimo. Isso é um projeto de desenvolvimento, mas eu também tenho um projeto de Nação. Este país não transitará para uma economia desenvolvida se não tivermos educação de qualidade, estando no centro da educação o professor, que tem de ter salário digno. Quem fala em educação de qualidade e não fala do professor está jogando pérolas aos porcos. Todo mundo diz que temos um bônus demográfico, que a nossa população em idade ativa é maior do que a população dependente, isto é, crianças, jovens e idosos. Outro dia fui brincar que o conceito de idoso estava mais flexível, porque tenho 62 anos e não sou idosa, e a imprensa toda deu que eu mexeria na idade da aposentadoria, que mudaria a previdência.

CC: E não será necessário, em algum momento?
DR: Não tem reforma da Previdência. Se você começar a fazer reforma da Previdência, acontece o seguinte: a primeira que fizemos deu uma corrida para a aposentadoria. Acaba criando um efeito contrário ao que se pretende. Mas, voltando, também vamos discutir a nossa cultura, a política cultural ocupará um espaço cada vez maior nesse processo. Não podemos permitir que não existam salas de cinema na periferia do Brasil, que o povo não tenha acesso a bibliotecas, à sua própria cultura.

CC: Em suma, vai ampliar o que foi feito durante o governo Lula?
DR: Não falo de só ampliar, não, falo de avançar. Se não avançar, não está continuando. O que o Lula construiu para o futuro? Um alicerce. Saímos de uma situação mais drástica, que foi a que nós recebemos do governo. Vamos relembrar bem: era uma situação de estagnação, desigualdade e desemprego. Podem falar o que quiser. Olhem estatísticas, meus filhos. E entramos numa era de prosperidade, que tem vários componentes: não é só inclusão, é mobilidade social, que significa que as pessoas podem subir na vida. É transformar as vantagens comparativas em competitivas, explorar as matrizes energéticas, o pré-sal, dar força à agricultura. Não somos aqueles países que têm petróleo e têm a maldição do petróleo, a pobreza no meio da abundância, o povo pobre e a riqueza do petróleo. Temos uma economia diversificada. Se a gente apostar na educação, vamos inovar também. Não se cria oportunidade no Brasil se não inovar. Se não formarmos engenheiros, físicos e matemáticos neste país, não vamos crescer adequadamente.

CC: A senhora promete erradicar a miséria em seu mandato. Mas o Ipea fala que erradicar a pobreza extrema só é possível em 2016.
DR: Miserável é quem tem renda de até um quarto do salário mínimo. Pobre é até meio salário mínimo. Em 2003, tínhamos um total de 77,8 milhões de pobres e passamos para 53 milhões no governo do presidente Lula. O contingente de miseráveis em 2003 era de 37,4 milhões e passou para 19,6 milhões. (Vira-se para o braço direito, Anderson Dorneles: – Anderson, dá o meu papel. Já fiz essa conta. Prefiro o meu papel.) Então, a gente tem de buscar eliminar esses 19,6 milhões de miseráveis, mas acho que também temos de olhar os 24 milhões de pobres. Só não digo que será no meu período, nem estou dizendo que será em 2014. Mas, se você não colocar a meta clara e tornar isso um ponto político da pauta, passa batido. Erradicar a miséria está no centro da pauta do projeto de continuidade com avanço do governo Lula.

CC: Mas qual vai ser o caminho? A ampliação dos programas sociais ou o crescimento?
DR: As duas coisas. O aumento da renda em 70% se deve à formalização do trabalho. O fato de manter uma taxa de crescimento e torná-lo sistemático formaliza o trabalho. Mas quem ganha até um quarto de salário mínimo teve programas sociais de dois tipos: tem o de proteção da renda, que é o Bolsa Família, e tem programa social com uma certa perenidade. Exemplo, na área rural, onde se concentra um grande número de miseráveis, fizemos a política de agricultura familiar, multiplicamos por cinco o financiamento, criamos assistência técnica. E teve outro programa que beneficiou a pobreza rural no Brasil, o Luz Para Todos. Não se eleva socialmente ninguém se não olhar para as condições que se pode ter para fazer renda. E uma delas, imprescindível, é energia elétrica. A grande política do meu período é manter essa política rural e chegar a uma questão fundamental: as cidades. As cidades no Brasil são o local das desigualdades. Nas cidades se manifestou o que há de mais perverso no Brasil, a retirada do Estado – aí vale para município, estado e governo federal – das periferias. Uma grande conquista deste governo também foi indicar caminhos. Pega o que está sendo feito no Rio, em Manguinhos, no Alemão, Pavão-Pavãozinho. É a volta do Estado.

CC: Ainda é preciso fazer uma reforma agrária de grande monta?
DR: Tivemos um processo de reforma agrária muito significativo, foram 500 mil hectares. Não é trivial. Ainda tem gente para ser assentada, mas política de assentamento não é só comprar terra. A forma como se fazia assentamento antes era colocar o cara no meio do nada. A agricultura familiar no Brasil deu certo porque tem um suporte no programa de aquisição de alimentos. Tem seguro, garantia à safra, política de preço mínimo. Demos um tecido econômico social, de apoio, à pequena propriedade no Brasil, que responde por 40% da riqueza que se gera no campo.

CC: Mas se uma grande parte da miséria, como a senhora falou, está na zona rural, tem algum problema aí. Talvez tenha faltado reforma agrária.
DR: Vou repetir: não se resolve o problema do campo só dando terra. Tem de dar condições de produzir, sustentar a produção, apoio com assistência técnica, comprar a produção, garantir a comercialização, o acesso ao trator.

CC: A senhora acha que, se o PT vencer as eleições, a mídia tende a se tornar hostil, como ocorre na Venezuela?
DR: A Venezuela não é nem sequer parecida conosco. Lá é uma economia de dois setores, portanto, uma sociedade que tende a refletir dois setores. De um lado, tem o petróleo e, do outro, o resto. É só ver a participação que tem a renda do petróleo na Venezuela, ver a história da Venezuela. É dinheiro que eles não sabem o que fazer com ele, ainda é assim.

CC: Mas a imprensa brasileira, como a de lá, não tende a se tornar hostil a uma permanência a longo prazo do PT no poder?
DR: De que adianta? Qual a eficácia? Mais do que somos criticados, e daí? Qual a nossa aprovação? 76%...

CC: Como a senhora recebe essa acusação, que deve se intensificar durante a campanha, de ter sido “terrorista”?
DR: Tenho dúvidas de que vai se intensificar uma coisa dessas, porque é contraproducente. A discussão sobre a resistência à ditadura é contraproducente para quem não resistiu. Sinto muito orgulho de ter resistido do primeiro ao último dia, de ter ajudado o País a transitar para a democracia e de não ter mudado de lado. É muito interessante a forma como eles entenderam a metáfora que o presidente fez com o (Nelson) Mandela. O que ele falou foi o seguinte: o Mandela, talvez o maior pacifista dos últimos tempos, foi uma pessoa que recorreu à luta armada no país dele, porque não tinha outra solução. Parodiando Tolstoi, que disse que todas as famílias felizes são iguais e todas as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira, todas as ditaduras são iguais e todas as democracias são cada uma à sua maneira. As ditaduras têm uma mania muito peculiar que as caracteriza: excluir de forma violenta todos os que não pensam como eles. O que queríamos caracterizar naquele momento era a existência de uma violência de Estado que levou pessoas, nos mais variados locais, a tomar posições firmes diante da ditadura. Eu tomei.

CC: Por que a senhora apoiou a decisão do STF de não rever a Lei da Anistia?
DR: Eu sou a favor da legalidade. O Supremo decidiu e, até pelo que quero ser, não tenho a menor condição de ficar fazendo confronto com o Supremo.

CC: Discordar não é confrontar.
DR: Para o papel a que me proponho assumir, é sim.

CC: O que pedimos é uma opinião pessoal.
DR: Esta é a minha opinião pessoal. É ter consciência e maturidade para perceber que uma decisão do Supremo, num país como o Brasil, tem de ser respeitada. Como presidente da República, que é o quero ser, seria desrespeito. A partir do momento que se decidiu, está decidido. A não ser que se queira criar turbulência e instabilidade. Eu não quero.

CC: Como a senhora pretende lidar com o toma-lá-dá-cá no Congresso?
DR: Como lidei, uai! Eu lidei com esse toma-lá-dá-cá, ou não?

CC: Mas, e diante de um episódio como o do mensalão? Todo mundo fala que, não fosse por sua habilidade, o presidente Lula não teria se mantido no cargo quando se chegou a falar até em impeachment...
DR: A habilidade do presidente consistiu em ir para os movimentos sociais e deixar claro que impeachment não seria uma coisa adequada à democracia no Brasil. O presidente não fez nenhum toma-lá-dá-cá nessa questão.

CC: Mas é preciso negociar com o Congresso o tempo inteiro.
DR: Não concordo que a relação que tivemos ao longo desse tempo com o Congresso foi de toma-lá-dá-cá. Foi uma relação de negociar, porque tem oposição. O governo é a arte de negociar, não há nenhum mal em dialogar.

CC: Há uma crítica recorrente de que o Estado brasileiro tem cargos comissionados demais e isso serve para comprar apoio político.
DR: O Estado brasileiro ainda é um pouco desequilibrado. Herdamos um Estado que fazia corte linear, doa a quem doer. A manifestação maior desse modelo é o que encontrei nas Minas e Energia. Um engenheiro na ativa para 20 motoristas, em um ministério que cuidava de petróleo, de gás, biocombustível, energia elétrica... Não se pode ter uma visão simplificada do que se quer de um Estado. Eu quero um Estado meritocrático e profissional. Hoje, ele ainda está descompensado, começamos a remontar no governo Lula e vamos continuar. A questão das indicações políticas existe nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, em todas as democracias. Essa conversa de aparelhamento do PT... Vamos lembrar o que houve em outros governos. Como se fosse só o PT a fazer nomeação política.

CC: O PT faz porque todos fazem, é isso?
DR: Não vou fazer tábula rasa disso. Pode ter, sim, nomeação política, o que não pode é não ter critérios técnicos. Posso receber uma nomeação política de um partido da minha base, ele vai me dar um nome, e nós vamos olhar.

CC: Não é o contrário? Olha-se o que tem para encaixar o apadrinhado?
DR: Não, normalmente indicam nomes com a ficha toda da pessoa. Essa conversa do aparelhamento do Estado é preconceito. Tentam estigmatizar, é uma coisa muito velha, lacerdista, de república de sindicalistas.

CC: Para alguns desenvolvimentistas, o Brasil está num processo de desindustrialização, por causa do câmbio. A senhora concorda?
DR: Não há nada que a gente não possa compensar com duas coisas: política industrial e financiamento. Mas acho importante que a taxa de juro real do País caia e convirja para as internacionais. Caminhamos celeremente para isso na próxima década. Se o Brasil mantiver uma taxa de crescimento de 5,5% ao ano, vamos ter uma redução do endividamento e aumento do PIB. E aí não há a menor possibilidade de não ter redução da taxa de juro real. O que não dá é achar que se faz isso por decreto.

CC: O Banco Central no seu governo será uma Santa Sé, como comparou José Serra?
DR: Acho inapropriada a comparação, é o tipo da problemática que não constrói nada. Não tenho o que falar a respeito.

CC: A senhora tem falado do combate ao crack, mas as políticas antidrogas têm fracassado. Sob que ótica se daria esse combate?
DR: O primeiro mecanismo é a prevenção. Não se combate droga sem repressão, tem de levantar a rota e combatê-la, mas só isso não adianta, está para lá de provado. Tem de fazer a prevenção e o apoio, e o apoio é complicado porque tem de apostar que tira o cara do crack depois que ele entrou. Há várias discussões a respeito, há casos que a pessoa saiu, mas não é fácil, não é igual às outras drogas. É altamente viciante e mata em seis meses. Não é algo, inclusive, que tenha tradição mundial, há dificuldade de fazer.

CC: O que a senhora acha da descriminalização das drogas, de maneira geral?
DR: Hoje não concordo. Não vou dizer que, numa crise de droga da proporção do crack no Brasil, caiba esse tipo de discussão agora. Não temos estrutura para isso e não temos como discriminar o que pode e o que não pode.

CC: A senhora foi muitos anos do PDT. Seu grande ídolo político é Leonel Brizola? Existe alguma ideia brizolista que poderá ser aplicada em seu governo?
DR: Admirei muito o Brizola. Tinha características muito importantes, uma grande noção de soberania. O compromisso com a educação conflui com o que a gente tem. A escola em tempo integral não basta mais, é pouco, o País mudou, mas a gente tem de reconhecer que ele deu uma grande contribuição. O Brizola pensou na educação em 1962, e o Miguel Arraes na eletrificação rural, na mesma época. Enxergaram problemas que no Brasil não se enxergava. Quando se olha para trás, a política de Arraes e de Brizola nos estados deles foi excepcional.

CC: O Chico Buarque, outro dia, disse que votaria na senhora por causa do Lula, mas que não via grandes diferenças entre um governo seu e um de José Serra. O que a senhora diria para o Chico?
DR: Talvez ele não me conheça (risos). Aliás, por culpa minha, eu é que tinha de procurá-lo. Até devo a ele um telefonema, não pude ir à casa dele no dia em que dona Maria Amélia, sua mãe, morreu. O presidente Lula foi e não pude acompanhá-lo. Mas pretendo procurar o Chico e agradecer pela opção.

CC: A senhora não parece ter sido muito vaidosa no passado e agora ganhou um upgrade no visual. Está gostando?
DR: Ah, a gente sempre curte, sempre é bom. Mas é um cabelo mais simples, né? (Alisa o cabelo, mais curto, mais claro e sem um fio fora de lugar.) É mais fácil de arrumar do que o seu. Mas eu gosto, não acho ruim, não.

CC: Acha que vão surgir muitos pretendentes... presidente e de visual novo?
DR: É o tipo da coisa que não dá tempo nem de a gente pensar, nessa função. Agora, não sou contra, não, viu? As pessoas namorarem, coisas assim. Acho bom.

CC: Se a senhora fosse se comparar a uma mulher governante, estaria mais para Michelle Bachelet ou para Margaret Thatcher?
DR: Ah, Bachelet, sem dúvida, óbvio. Não tenho a posição conservadora da Thatcher.

CC: Mas a pintam como dama-de-ferro, não?
DR: É um estereótipo. Toda mulher é dama-de-ferro? Nunca vi um senhor-de-ferro, você já viu algum?

CC: Qual é, hoje, o maior entrave para o Estado brasileiro conseguir ser eficaz nos investimentos?
DR: Ainda tem muita burocracia herdada do período em que a ordem era não gastar. Houve um processo muito difícil de gestão da coisa pública e se criou uma série de entraves ao investimento. É fundamental reconstruir o planejamento, a capacidade de fazer projeto. O Estado pode demandar projetos.

CC: A senhora acha que as entidades fiscalizadoras, como o Tribunal de Contas da União (TCU), agem com excesso de zelo?
DR: Tive uma experiência muito boa com o TCU, que, inclusive, reconhece que o PAC tinha menos problemas do que qualquer outro programa do governo, pelo nível de acompanhamento direto nosso. Não acho que a questão de fundo seja essa. O que há é uma discrepância entre a qualidade da estrutura que fiscaliza, que se manteve ao longo dos anos intacta, que teve profissionalismo, que tem engenheiro ganhando a partir de 12 mil, e a estrutura que executa, onde o inicial é 4 mil ou 5 mil reais. Essa discrepância vai ter de ser alterada, tem de fazer plano de cargos e salários. Não pode ficar perdendo seus melhores quadros, senão não se consegue elaborar, olhar o futuro. E ninguém resolve isso no horizonte de um governo. Vamos ter de resolver a meritocracia no Estado brasileiro no horizonte de uma década. Levaram 20 anos desmontando, não se constrói de um dia para o outro.

CC: Privatizar é um tema banido no PT ou ainda existe algo privatizável?
DR: Privatizar patrimônio público, banco, estatal do nível da Petrobras e da Eletrobrás, é absolutamente absurdo e a vida nos deu razão. A crise mundial recente nos deu muita razão. Sem essas empresas não teríamos nos saído tão bem. A Caixa Econômica mudou, o Banco do Brasil mudou. O BNDES era uma central para fazer projetos para privatizar empresas brasileiras. Hoje faz projetos para expandir empresas brasileiras, é diferente.

Cynara Menezes e Sergio Lirio
CC: A senhora parece aquele tipo de mulher que as durezas da vida fizeram revestir-se de uma armadura. É difícil ter de se livrar dela agora, em campanha, ficar, como se diz, mais soft?
DR: Isso é um baita estereótipo. Quem não criou, depois de 60 anos de vida, vários mecanismos de defesa? Me mostre um bicho sem nenhuma carapaça que sobreviveu. Somos todos fundamentalmente muito parecidos. Nos defendemos, nos desmontamos, nos abrimos para as pessoas. Depende da circunstância. Não posso ficar chorando o dia inteiro sendo ministra-chefe da Casa Civil, me comovendo às lagrimas. Agora, se eu vir um filme comovente, choro. Como ministra, não podia ficar na emoção sistemática, porque ou eu segurava o touro a unha ou o touro picava a mula. O pessoal vende umas histórias esquisitíssimas. Talvez a suposição seja que sou um E.T. A verdade é que tive uma vida muito boa, tirando a prisão na época da ditadura. Casei, tive filho, vivi bem com meu marido, sou amiga do meu ex-marido, ele é que nem meu parente. Nunca me senti uma pessoa infeliz, não sou carente, sou alegre. Gosto de viver.

A mídia e a tática da demonização

Direto do Luis Nassif Online

As pesquisas qualitativas dos institutos de pesquisa Datafolha e Ibope são bastante reveladoras de métodos tradicionais da velha mídia.

Até algum tempo atrás, uma das táticas mais bem sucedidas do jogo jornalístico consistia na demonização de personagens. Criavam personagens à altura dos filmes de terror classe B de Hollywood, passando para o leitor a sensação do perigo iminente, do vilão de sete vidas cujo único antídoto era o trabalho corajoso e pertinaz da mídia.

Depois da democratização, viveram esse personagem sucessivamente Orestes Quércia, Paulo Maluf, José Sarney, Fernando Collor, Sérgio Motta. Em caráter regional, Joaquim Roriz. Mais recentemente, Renan Calheiro e José Dirceu.

É só conferir o depoimento do leitor que foi pesquisado pelo IBOPE – com a pergunta sobre o que achava de José Dirceu – e a matéria de hoje da Folha, uma forçada de barra para colocar o nome de Dirceu na campanha.

um jogo tão óbvio que no ataque perpetrado pela Folha contra mim, a editora de Política Vera Magalhães colocou na matéria que, no tal episódio da Eletronet, eu tinha feito a defesa do Dirceu. Quem leu sabe que não houve nada disso, mas incluindo o nome do "maldito", julgava poder prescindir da necessidade de levantar argumentos consistentes sobre a cobertura que dei ao caso - e que comprometia a Folha.

Embora a própria opinião pública considerasse vilão maior, ACM jamais entrou nessa lista. Sempre foi poupado mercê dos grandes favores prestados a grupos de comunicação, quando foi Ministro de Sarney; e também graças às ligações com grupos de influência entre jornalistas – pessoas que, mesmo sem ocupar cargos de direção, lograram montar um séquito de aliados nas diversas redações.

Na ponta do lápis, não há grandes diferenças entre os métodos de alguns capitães de mídia e alguns coronéis políticos.

No início da série sobre a Veja, mostrei a estratégia da manipulação de escândalos, comparando a uma gôndola de supermercado, na qual o jornal retira o pacote de escândalo conveniente a cada momento, se não tem fabrica, com o intuito de transformar em arma dos seus próprios interesses pessoais. O denuncismo da mídia não obedece a uma lógica de depurar a política e controlar os poderes, mas como ferramenta de seus próprios interesses.

Logo depois, esse jogo se escancarou de maneira inédita com os desdobramentos do caso Satiagraha, no qual a velha mídia fuzilou reputações de juízes, desembargadores, jornalistas, delegados de polícia de forma inédita. E tudo isso em defesa de Daniel Dantas.

Com as características da política brasileira, a indignação seletiva pe desmascarada instantaneamente. Aliançcas são inevitáveis. Lula se alia a Collor e Renan; Serra a Quércia e Maluf; FHC recebe Joaquim Roriz. Ou seja, demônios para todos os gostos e partidos. A velha mídia seleciona apenas os dos adversários, praticando o velho jogo dos tempos das cortinas fechadas. Só que a blogosfera inteira acompanha o jogo de dentro do palco. Algo ridículo.

Por isso mesmo, esse denuncismo tende a perder força a cada momento. E, insistindo nesse jogo aberto – porque escancarado hoje pelas novas mídias – a velha mídia arrisca-se a ser o próximo ator do personagem que ela escolheu: o demônio da hora.

Na pista do factoide

Leandro Fortes

De um segundo encontro em uma confeitaria de Brasília ao roubo de arquivos, novos detalhes da mal-ajambrada trama do dossiê anti-Serra que ninguém viu

Nas últimas semanas, os eleitores brasileiros acompanharam o desenrolar de uma série de informações desconexas sobre um escândalo inexistente baseado em um dossiê fantasma a ser montado por uma equipe de arapongas jamais formada. Ainda assim, a história está longe de acabar. O tal dossiê, na verdade um livro sobre os bastidores do processo de privatização durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, voltará a ser notícia depois da Copa do Mundo, provavelmente no fim de julho.

É o período mais provável para o autor do texto, o repórter Amaury Ribeiro Júnior, com passagens por alguns dos principais veículos de comunicação do País e colecionador de prêmios jornalísticos, entregar ao Ministério Público Federal as informações e documentos coletados por ele ao longo de dois anos de investigação. Em seguida, vai publicar a obra, 14 capítulos que o autor acredita serem capazes de abalar os alicerces do PSDB às vésperas das eleições de outubro.

Antes, porém, é preciso esclarecer as circunstâncias que, em 5 de abril, levaram a uma mesa do restaurante Fritz, na Asa Sul de Brasília, os cinco personagens de uma trama rocambolesca, cujo início ainda tem pontos obscuros. A partir desse encontro, CartaCapital buscou reconstituir os bastidores dos acontecimentos que resultaram na crise inaugurada a partir de uma reportagem publicada pela revista Veja em 29 de maio, mas costurada antes no submundo político brasiliense, graças, em parte, ao grau de amadorismo dos envolvidos na confusão e em grande medida à guerra eleitoral que se aproxima.

Na batalha de versões estabelecidas entre as partes envolvidas no escândalo do dossiê que ninguém viu, o primeiro a falar foi, justamente, o primeiro a cair, o empresário Luiz Lanzetta, dono da agência Lanza, responsável na campanha da pré-candidata Dilma Rousseff pela contratação de profissionais da área de comunicação, 14 ao todo. No fim de março, Lanzetta diz ter percebido a existência de vazamentos de informações de dentro do comitê do PT, instalado em uma casa no Lago Sul de Brasília. Nessa altura, havia se instalado uma clara divisão na área de comunicação. De um lado, Lanzetta, levado à campanha pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, amigo de Dilma Rousseff. De outro, o grupo do paulista Rui Falcão, igualmente próximo à ex-ministra.

Atribui-se o vazamento a essa luta interna pelo controle da área de comunicação na campanha. Tanto Pimentel quanto Falcão se dizem amigos fraternais e negam qualquer divergência ou briga por mais espaço e poder.

Preocupado com os vazamentos, Lanzetta procurou apoio de um velho conhecido de fora da campanha, Ribeiro Jr.. A ideia era contratá-lo para a equipe de Dilma Rousseff de forma a conseguir também, a partir do perfil profissional do repórter, informações sobre os movimentos do adversário. Até aí, nada de novo no front eleitoral brasileiro, onde investigações mútuas entre candidatos são tão comuns quanto a impressão de “santinhos” de campanha.

Ao saber das preocupações de Lanzetta, Ribeiro Jr. decidiu convocar uma fonte antiga, o sargento Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, ex-agente da Secretaria de Inteligência da Aeronáutica (Secint). O araponga disse ao jornalista conhecer o nome certo para o serviço na casa do Lago Sul, Onézimo Sousa, ex-delegado da Polícia Federal e investigador com 30 anos de experiência. Decidiu-se marcar o citado almoço no restaurante Fritz. O quinto participante do encontro seria Benedito Oliveira Neto, empresário do setor gráfico e de eventos de Brasília, possuidor de contratos com o governo federal. Oliveira Neto teria sido convidado à reunião por Lanzetta para atuar como “testemunha”. Os dois também se conhecem de longa data.

Na versão de Lanzetta, sustentada por Oliveira Neto e Ribeiro Jr., Onézimo Sousa foi consultado somente sobre a montagem de um esquema de segurança interna do comitê da campanha petista para detectar de onde saíam os vazamentos e arranjar um jeito de evitá-los. Suspeitava-se, ainda, da existência de escutas telefônica e ambientais na casa. Segundo Lanzetta, Sousa os alertou de que era “antipetista”, mas engatou uma conversa sobre uma centena de dossiês que, segundo ele, estariam sendo produzidos por uma equipe encabeçada pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) contra aliados da base do presidente Lula, principalmente do PT e do PMDB. “Ele disse que tinha sido do lado de lá, que conhecia esses caras todos”, afirma Lanzetta. O “antídoto” para os vazamentos apontados por Sousa, segundo o empresário de comunicação, seria um sistema de contraespionagem ao custo de 180 mil reais por mês. “Aí eu encerrei o assunto, me levantei e fui embora.”

A CartaCapital Sousa afirmou nunca ter oferecido serviço algum a Lanzetta ou a ninguém do PT. “Da minha parte, tenho como provar tudo que eu disse. Nunca citei o Itagiba. Fui ao restaurante, ouvi uma proposta indecente e saí”, contou o ex-delegado, em entrevista por telefone, na terça-feira 8, de um quarto de hotel localizado fora de Brasília, em local não revelado por ele. A proposta indecente seria a de investigar o candidato José Serra, interpretada por ele como ordem implícita de fazer grampos telefônicos nas linhas do tucano e de seus aliados políticos. Antes de sair do restaurante, o araponga deixou com Lanzetta um cartão de apresentação em que se lia apenas “Onézimo Sousa – Advogado – OAB-DF 13600”, seguido do endereço do escritório e dos telefones de contato.

“Estou com a consciência tranquila, porque foram eles que me chamaram. Até estranhei, porque não sou petista”, diz Sousa. Uma semana depois, o ex-delegado iria encontrar o mesmo cartão nas mãos do jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da Veja em Brasília. Como ele pode garantir ser o mesmo cartão? “Fiz uma marca de identificação nele.” Passados alguns dias da reunião no Fritz, uma equipe de repórteres da Editora Abril já estava no encalço dos participantes do almoço. Ou seja, de algu-ma forma, e com bastante rapidez, a informação havia sido vazada para a imprensa. O delegado passou a achar que o vazamento partira de alguém que esteve no encontro no restaurante.

Sousa, a quem Policarpo Jr. conhece há quase duas décadas, foi um dos primeiros a ser contatados. Quando viu o cartão de visita nas mãos do repórter, perguntou como ele havia conseguido o papel. “Ele me disse que tinha vindo da casa”, conta o ex-delegado. “Eu entendi que a Veja tem alguém lá dentro”, afirma. Por isso mesmo, concluiu que havia caído em uma armadilha, principalmente quando soube, logo depois, que também Ribeiro Jr. tinha sido entrevistado.

Por sete semanas, o staff da campanha petista ficou na expectativa sobre o que poderia ser publicado sobre o almoço do restaurante Fritz. Portanto, ao menos os mais bem informados integrantes do comitê sabiam da preparação da reportagem. Nesse intervalo, além de Sousa e Ribeiro Jr., o deputado Rui Falcão foi procurado pela revista. “Eu sabia que o assunto estava no ar. Mas eles não registraram nenhuma declaração minha”, diz Falcão.

Em 29 de maio, uma matéria truncada foi publicada em Veja com foto e declaração do ex-delegado Sousa, mas sem nenhuma linha sobre o livro de Ribeiro Jr., o que, obviamente desmontaria a tese do dossiê tão alegremente sustentada pela mídia nos últimos dias, ainda que, a exemplo do suposto grampo contra o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes (outra contribuição da revista da Editora Abril ao jornalismo “investigativo” à brasileira), faltem alicerces para manter a versão de pé.

Na iminência da publicação, Sousa decidiu enviar uma carta à revista, reproduzida na internet, onde se dizia “obrigado a manter o devido sigilo” sobre conversas com clientes e informou ter sido apenas sondado pelos petistas, apesar de não ter aceitado o serviço por “divergir cabalmente quanto à metodologia e ao direcionamento dos trabalhos a serem ali executados”. Na mesma semana, ele voltaria a falar com Policarpo Júnior, mas desta vez para fazer estardalhaço.

Em 5 de junho, Veja publicou uma entrevista com o ex-delegado, na qual ele soltou o verbo contra Lanzetta e Ribeiro Jr. Acusou o grupo petista de querer grampear Serra e lançou-se numa estratégia de virtual suicídio profissional, ao abrir as intenções de um cliente, mesmo não contratado. No mesmo dia, Lanzetta foi obrigado a se demitir da campanha de Dilma Rousseff. O ex-delegado agiu com o fígado, sobretudo, porque passou a ser acusado de ter sido cooptado pelos tucanos e, no passado, ter participado do núcleo de inteligência de Serra no Ministério da Saúde.

Não é verdade. Sousa jamais trabalhou com o deputado Itagiba ou no Ministério da Saúde, ou mesmo em ambientes comuns na Polícia Federal, onde ambos foram delegados. Quando na PF, Sousa fez fama como investigador profissional e corajoso, sobretudo no combate a traficantes de drogas e de armas no Rio de Janeiro, numa época em que coleta de provas e infiltração entre bandidos valiam mais que escutas telefônicas. Aposentado em 1995, fez carreira de investigador particular na Control Risks, uma renomada agência de investigação inglesa, com filial em São Paulo. De volta a Brasília, montou um escritório de advocacia no Setor Comercial Sul, embora ainda continuasse, eventualmente, a fazer serviços de investigação para uns poucos clientes. O que o levou a corroborar a tal história de arapongagem é uma pergunta que, talvez, só o tempo seja capaz de esclarecer.

Ribeiro Jr. também diz ter como provar “diálogo por diálogo” da conversa ocorrida no restaurante Fritz. Supõe-se, portanto, que tanto ele como Sousa tenham gravado tudo sem que um notasse o que o outro fazia. É certo que um dos dois está blefando, mas Ribeiro Jr. tem a seu favor o depoimento dos outros presentes à mesa, inclusive o sargento Idalberto, embora este não esteja nem um pouco disposto a aparecer em público. Em 2008, Dadá foi acusado de participar ilegalmente da Operação Satiagraha, ao lado do delegado Protógenes Queiroz, mas negou ter feito parte da ação.

Ribeiro Jr. alega ainda ter tido outro encontro com Sousa, 15 dias depois do almoço no Fritz, em uma confeitaria de Brasília, na presença do sargento Dadá. Na ocasião, conta o jornalista, o ex-delegado estava furioso por causa do vazamento da conversa com Lanzetta e o acusou de ter levado o assunto para a imprensa. “Ele achou que nós havíamos passado o cartão dele para a Veja”, explica Ribeiro Jr. “Mas é certo que o cartão dele foi roubado dentro da campanha. Também roubaram um arquivo do meu livro, colocado num computador da casa, daí o pânico (dos tucanos) em relação ao ‘dossiê’.” Sousa nega ter participado desse segundo encontro.

Além disso, Ribeiro Jr. acredita que algum hacker conseguiu entrar em seu notebook enquanto ele esteve hospedado em um hotel de Brasília e retirado um arquivo que só ele tinha: uma reportagem encomendada pelo jornal O Estado de Minas, mas jamais publicada, sobre as investigações que resultariam no livro intitulado Os Porões da Privataria e que conta com alguns trechos publicados na internet. A reportagem não publicada seria o tal “dossiê”. Diz o repórter: “Também roubaram relatórios dos custos- da casa onde fica o comitê de campanha de Dilma. Quando Veja ligou para o Lanzetta, já tinha tudo na mão”.

Enquanto o staff de Serra aproveitou o episódio para tentar consubstanciar uma aura de vítima ao redor do candidato tucano, a história provocou algumas mudanças no comitê petista. Aparentemente, o ex-ministro Antonio Palocci e o grupo paulista reforçaram sua posição na estrutura. Já Pimentel, obrigado a ceder a vaga de candidato ao governo de Minas Gerais ao peemedebista Hélio Costa, tende a se afastar um pouco de Brasília, até para cuidar de sua candidatura ao Senado.

A oposição está disposta a manter o tema aceso no noticiário, embora até o momento os resultados práticos da cruzada sejam quase nulos. Uma comissão mista no Congresso aprovou na quarta-feira 9 o convite a Sousa e a Dadá para deporem. No dia anterior, em viagem a São José dos Campos (SP), Dilma Rousseff negou que Pimentel tenha perdido espaço na campanha e voltou a chamar de “leviandade” a acusação de que alguém de sua equipe de campanha tenha preparado um dossiê anti-Serra. A candidata estava acompanhada de Palocci.

(Foto: Monica Alves/ AE)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

PT-PSDB: Diferenças?

Por Cesar Sanson

Em 2010, o PT e o PSDB disputarão pela quinta vez consecutiva a Presidência da República. Em duas delas (1994 e 1998), o PSDB levou a melhor; nas duas seguintes (2002 e 2006), ganhou o PT. Os dois partidos perdem em tamanho para o PMDB, partido que reúne o maior número de parlamentares no Congresso e mandatos no executivo em âmbito municipal e estadual, porém, PT e PSDB, já há algum tempo polarizam a política nacional. Os demais partidos, com poucas exceções, gravitam em torno de ambos.

Em que pese à intensa e já histórica disputa que travam os ataques verbais e acusações que trocam mutuamente e permanentemente, as diferenças dos partidos, principalmente programática e de método - o jeito de se fazer política - são menores do que se pensa. A afirmação pode parecer pouco compreensível e anacrônica ainda mais às vésperas das eleições e, sobretudo, quando se ouve reiteradamente que as eleições colocarão em disputa diferentes projetos políticos.

Nos últimos anos, entretanto, mais do que projetos políticos, PT e PSDB disputam o poder. O PT quando assumiu o governo não rompeu com a política econômico-financeira do PSDB e tratou de juntar à ortodoxia econômica políticas sociais de forte incidência junto aos mais pobres; agora tampouco, o PSDB romperá com as políticas sociais do PT.

Faz algum tempo circulam análises de que PT e PSDB são estampas da matriz paulista – o "motor" do capitalismo brasileiro – e com o advento da nova ordem econômica internacional, a globalização, a representação financista (PSDB) e produtivista (PT) fizeram com que os mesmos se aproximassem programaticamente.

A partir dessa perspectiva, Fernando Henrique Cardoso (FHC) teria governado oito anos a partir dos interesses paulistas articulados aos interesses do capital financeiro internacional, e Lula a partir do capital produtivo sem, entretanto, afrontar os interesses do capital financeiro.

O governo Lula passou a ser o grande modelo de governo mundial, um governo capaz de unir o que antes era impensável: o mercado com o social. Por um lado, preservam-se os interesses da banca financeira, e por outro, atende-se os pobres com o Bolsa-Família - um vigoroso programa social que distribui renda para mais de 12 milhões de famílias brasileiras. A síntese dessa singularidade é manifesta pelo livre trânsito de Lula no Fórum Social Mundial e no Fórum Econômico Mundial. Em ambos, Lula é aplaudido.

Para além da semelhança programática, PT e PSDB se parecem cada vez mais iguais no jeito de fazer política. A ruptura prometida com a 'Velha República' e inclusive com a 'Nova República', através do surgimento do PT que arrombou a política nacional pela 'porta dos fundos' e se apresentou com a grande novidade na política brasileira não se efetivou. O PT e o governo Lula repetem os velhos métodos condenáveis da política nacional, ou seja, o clientelismo e o fisiologismo como regra justificável para se manter a governabilidade.

Se o PSDB tinha o PFL como grande aliado, o PT tem o PMDB. Ambos, PFL e PMDB em seus respectivos momentos de partilha do poder arrancam o que podem - cargos e recursos - para dar sustentação política aos "titulares" do poder. Foi o governo de coalizão que fez ressurgir no cenário nacional figuras que julgavam-se superadas como José Sarney, Jader Barbalho, Romero Jucá, Geddel Oliveira, Collor de Mello, entre outras. Tudo passou a ser justificado pela governabilidade.

Tristemente o PT foi também aos poucos sucumbindo ao centralismo, caciquismo e personalismo. A defendida tese de que os partidos é que devem ser valorizados e não as pessoas, foi sendo deixada de lado. A realidade é que o PT foi engolido por Lula. É Lula quem decide, arbitra, define. Tudo passa por ele, do presidente do partido ao candidato à sucessão presidencial.

Cesar Sanson é pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR (Universidade Federal do Paraná)

(publicado originalmente no sítio da Rádio Agência NP)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Porque vou para Gaza

Por Iara Lee

Em alguns dias eu serei a única brasileira a embarcar num navio que integra a GAZA FREEDOM FLOTILLA. A recente decisão do governo Israelense de impedir a entrada do acadêmico internacionalmente reconhecido Noam Chomsky aos Territórios Ocupados da Palestina sugere que também seremos barrados. Não obstante, partiremos com a intenção de entregar comida, água, suprimentos médicos e materiais de construção às comunidades de Gaza.

Normalmente eu consideraria uma missão de boa vontade como esta completamente inócua. Mas agora estamos diante de uma crise que afeta os cidadãos palestinos criada pela política internacional. É resultado da atitude de Israel de cercar Gaza em pleno desafio à lei internacional. Embora Presidente Lula tenha tomado algumas medidas para promover a paz no Oriente Médio, mais ação civil é necessária para sensibilizar as pessoas sobre o grave abuso de direitos humanos em Gaza.

O cerco à Faixa de Gaza pelo governo Israelense tem origem em 2005, e vem sendo rigorosamente mantido desde a ofensiva militar Israelense de 2008-09, que deixou mais de 1.400 mortos e 14.000 lares destruídos. Israel argumenta que suas ações militares intensificadas ocorreram em resposta ao disparo de foguetes ordenado pelo governo Hamas cuja legitimidade não reconhece. Porém, segundo organizações internacionais de direitos humanos como Human Rights Watch, a reação militar israelense tem sido extremamente desproporcional.

O cerco não visa militantes palestinos, mas infringe as normas internacionais ao condenar todos pelas ações de alguns. Uma reportagem publicada por Amnesty International, Oxfam, Save the Children, e CARE relatou, “A crise humanitária [em Gaza] é resultado direto da contínua punição de homens, mulheres e crianças inocentes e é ilegal sob a lei internacional.”

Como resultado do cerco, civis em Gaza, inclusive crianças e outros inocentes que se encontram no meio do conflito, não têm água limpa para beber, já que as autoridades não podem consertar usinas de tratamento destruídas pelos israelenses. Ataques aéreos que danaram infraestruturas civis básicas, junto com a redução da importação, deixaram a população em Gaza sem comida e remédio que precisam para uma sobrevivência saudável.

Nós que enfrentamos esta viagem estamos, é claro, preocupados com nossa segurança também. Anteriormente, alguns barcos que tentaram trazer abastecimentos a Gaza foram violentamente assediados pelas forças israelenses. Dia 30 de dezembro de 2008 o navio ‘Dignity’ carregava cirurgiões voluntários e três toneladas de suprimentos médicos quando foi atacado sem aviso prévio por um navio israelense que o atacou três vezes a aproximadamente 90 milhas da costa de Gaza. Passageiros e tripulantes ficaram aterrorizados, enquanto seu navio enchia fazia água e tropas israelenses ameaçavam com novos disparos.

Todavia eu me envolvo porque creio que ações resolutamente não violentas, que chamam atenção ao bloqueio, são indispensáveis esclarecer o público sobre o que está de fato ocorrendo. Simplesmente não há justificativa para impedir que cargas de ajuda humanitária alcancem um povo em crise.

Com a partida dos nossos navios, o senador Eduardo Matarazzo Suplicy mandou uma carta de apoio aos palestinos para o governo de Israel. “Eu me considero um amigo de Israel e simpatizante do povo judeu” escreveu, acrescentando: “mas por este meio, e também no Senado, expresso minha simpatía a este movimento completamente pacífico…Os oito navios do Free Gaza Movement (Movimento Gaza Livre) levará comida, roupas, materiais de construção e a solidariedade de povos de várias nações, para que os palestinos possam reconstruir suas casas e criar um futuro novo, justo e unido.”

Seguindo este exemplo, funcionários públicos e outros civis devem exigir que sejam abertos canais humanitários a Gaza, que as pessoas recebam comida e suprimentos médicos, e que Israel faça um maior esforço para proteger inocentes. Enquanto eu esteja motivada a ponto de me integrar à viagem humanitária, reconheço que muitos não têm condições de fazer o mesmo. Felizmente, é possível colaborar sem ter que embarcar em um navio. Nós todos simplesmente temos que aumentar nossas vozes em protesto contra esta vergonhosa violação dos direitos humanos.

sábado, 29 de maio de 2010

Lições de pertinácia

26/05/2010 16:39:28
Elias Thomé Saliba

Ataviados com verdades triviais como o “triunfo do mercado”, o “fim da história” ou a “marcha da globalização”, entramos no século XXI com um ar de superioridade, relegando as lembranças do século XX ao baú dos extremismos políticos, dos erros trágicos e de escolhas irracionais. Não chegamos a esquecer a história, já que nunca inauguramos tantos memoriais, mausoléus, museus e monumentos, reais ou virtuais. Até incentivamos os estudantes e cidadãos a aprenderem lições do passado pelo prisma particular do seu próprio sofrimento, ou do sofrimento dos seus antepassados, resultando numa memória de fragmentos múltiplos e separados (judeu, polonês, sérvio, armênio, asiático, afro-asiático, palestino, irlandês, homossexual), cada um marcado pelo sua própria condição de vítima. Onde, quando e por que perdemos nosso quadro de referências em troca desses talismãs triviais e dessa esmigalhada memória seletiva? Este é o foco candente de Reflexões sobre um Século Esquecido, 1901-2000 Objetiva, 504 págs., R$ 59,90), uma coletânea de 24 ensaios do historiador Tony Judt, escritos entre 1994 e 2006, nas livrarias brasileiras a partir de quinta-feira 27. Nascido em Londres, de pais descendentes de rabinos lituanos, Judt passou alguns anos de sua juventude num kibutz, em Israel, até 1967, quando a Guerra dos Seis Dias o obrigou a voltar à Inglaterra. Formou-se em Cambridge, mas realizou suas primeiras pesquisas em Paris, onde publicou dois livros, em 1990 e 1991, sobre a trajetória dos intelectuais franceses, que provocaram mais polêmica em terras gaulesas do que inauguração de lanchonete McDonald’s. Um deles, Passado Imperfeito, foi publicado no Brasil pela Nova Fronteira em 2007. Seu Pós-Guerra (Objetiva, 2008), uma das pesquisas mais completas sobre a história europeia, só não ganhou o Pulitzer de 2006 porque foi visto, por críticos afoitos, como uma acusação a Israel por esvaziar o significado do holocausto. É, desde 1995, professor da Universidade de Nova York. Mas, em 2008, recebeu o triste diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica, ficando com o corpo quase totalmente paralisado no final de 2009. Com raras exceções, a mídia alardeia tantas notícias sobre a fatalidade de sua doença que, não fosse sua aparição pública (em cadeira de rodas e cheio de aparelhos) em outubro passado, para uma palestra, por pouco não lhe traçariam um precoce obituário. E se o precoce obituário vier, não será por falta de pragas rogadas pelos seus inúmeros críticos. Judt nunca abandona a lucidez em troca daquelas teorias sistêmicas que obscurecem partes do cenário histórico. Logo após a Guerra dos Seis Dias, publicou Vitória Sombria, um ensaio no qual alfineta o orgulho renitente de Israel e sua retórica de autoveneração e exclusividade, incompatíveis com o legado ético do judaísmo profético. Por causa do ensaio, o historiador acabou defenestrado do conselho editorial da New Republic. Em 2006, noutro artigo, Judt demonstrou como o hábito de enfiar qualquer crítica estrangeira no mesmo saco do antissemitismo ainda está entranhado nos instintos políticos israelitas. Para ele, a narrativa de vitimização nacional virou uma espécie de “disfunção cognitiva coletiva” da cultura política daquele Estado. Judt mostra que as gerações mais jovens não percebem como os horrores da última guerra europeia podem ser invocados para autorizar ou perdoar comportamentos inaceitáveis de outro tempo e lugar. Aos olhos do mundo esclarecido, o fato de a bisavó de um soldado israelita ter morrido em Treblinka não é desculpa para o tratamento desrespeitoso deste a uma mulher palestina que deseja passar por uma barreira de estrada. Um simples “lembrem-se de Auschwitz” não é mais uma única resposta aceitável. A repercussão dos dois ensaios, incluídos no presente volume, foi enorme e, depois deles, o historiador tornou-se persona non grata em vários países. A lista de antipáticos só aumentou quando Judt escreveu a apresentação do livro póstumo de Edward Said From Oslo to Iraq and the Road Map, com o título de Um Cosmopolita Desenraizado, incluída nesta coletânea, alinhando-se ao autor de Orientalismo na defesa de um Estado único e secular, para israelitas e palestinos. Apesar de discordar de algumas idéias de Said, não deixou de solidarizar-se com este quando a Universidade de Colúmbia sofreu pressões internas e públicas para censurar e até afastar Said, graças às suas intervenções em defesa dos palestinos. Judt admira o impulso humanista de Said que o punha em conflito aberto com um tique ocasional de intelectuais engajados – a aprovação entusiástica da violência, geralmente a uma distância segura e sempre à custa dos outros. O “professor do terror”, como os inimigos chamavam Said, foi na verdade um crítico bastante severo da violência em todas as suas formas. Se Judt já concordava com o acurado diagnóstico da situação de conflito no Oriente Médio feita por ele naquela época, o diagnóstico do próprio Judt não é menos contundente: “Dois povos, cada um sustentado pela sua narrativa vitimizada exclusiva, competindo indefinidamente sobre os cadáveres de seus filhos pelo mesmo minúsculo pedaço de terra. Um deles é um Estado armado, o outro um povo sem Estado, mas de resto, de modo deprimente, são semelhantes: que é, enfim, a história nacional palestina senão um espelho recriminador do sionismo, um conto de expulsão, diáspora, ressurreição e regresso?” São páginas de pílulas que servem não para “refrescar” nossa memória do século XX, antes para espicaçá-la. Há um longo ensaio sobre Henry Kissinger, “o maior ilusionista” da política externa norte-americana, outro sobre os impasses da história da Romênia no pós-guerra e um inspirado exame crítico da trajetória de Tony Blair, o “gnomo no jardim” na política britânica. Mas os melhores ensaios são dedicados a lembrar os intelectuais mais notáveis desta esquecida República das Letras. Lá estão Arthur Koestler, Primo Levi, Albert Camus, Leszek Kolakowski, Hannah Arendt, Eric Hobsbawm, Bronislaw Geremek. Todos pertencentes à derradeira legião de personalidades europeias formadas nos horrores da Segunda Guerra Mundial. Os ensaios não rasgam seda ou fazem elogios fúnebres. São textos cerrados, revelando detalhadíssimo conhecimento da trajetória e da obra de cada um. Judt qualifica as Memórias póstumas de Louis Althusser (nas quais o filósofo francês narra como estrangulou sua mulher Helène, em 1980) como obra de estranha qualidade hermética, que lembra mais um “escolástico medieval de quinta categoria”. Disseca os “esforços tenazes e interesseiros” do historiador inglês E.P. Thompson para “salvar o socialismo das deficiências do marxismo, para salvar o marxismo dos fracassos do comunismo e para salvar o comunismo dos seus próprios crimes”. Nem Hobsbawm escapa de sua pertinácia crítica. No capítulo “O romance do comunismo”, Judt o reconhece como um dos maiores historiadores do século e, sobretudo, como um grande escritor. Argumenta que Hobsbawm é admirável em sua fidelidade ao comunismo, mas, “para fazer algum bem no novo século, devemos começar dizendo a verdade sobre o antigo”, e um historiador do seu quilate não pode mais se recusar a encarar o demônio e chamá-lo pelo nome: o stalinismo e todos os seus crimes hediondos. Em entrevistas publicadas em 2009, Hobsbawm respondeu que as críticas de Judt eram improcedentes, pois em A Era dos Extremos encarava o problema, criticando-o e firmando sua posição. Hobsbawm ainda retrucou que condenava sobretudo “aqueles intelectuais anticomunistas que hoje têm apenas uma bandeira única, a de serem exclusivamente anticomunistas, esquecendose completamente das ideias pelas quais lutavam”. “Judt deseja apenas que eu diga que estava errado – e não vou satisfazê-lo”, finalizou Hobsbawm. A polêmica não rendeu, parando nessas tantas cutiladas curtas, até porque logo depois Judt cairia doente. É pena. Pois o debate poderia se alongar, ao refletir sobre o imenso abismo ético que se abriu entre os intelectuais europeus do “Leste” e os “Ocidentais” em razão da própria história e da experiência de cada um com o comunismo. O abismo se mantém. De qualquer forma, provocações inteligentes não faltam e é difícil resistir à solidez e à clareza do estilo de Judt. Ele realiza uma anamnese brilhante da história do século XX e tem sempre algo a nos dizer, embora a atual doença talvez o impeça efinitivamente. Faltou apenas aquele grãozinho de leveza, de humor e de autoironia que Mark Twain sempre cobrava de todo grande historiador e que ele próprio, como escritor, nunca abandonou. E não custa lembrar que, já desenganado por uma doença terminal, Twain sorriu ao ler seu próprio obituário num jornal, não deixando de registrar sua derradeira ironia: “As notícias sobre a minha morte são muito exageradas”. (Foto: James Leynse/Corbis/Latinstock)

Vale, a mineradora com as mãos sujas de sangue

Por trás da imagem verde e amarela que vende na televisão, a ex-estatal Companhia Vale do Rio Doce, hoje uma transnacional, coleciona denúncias de graves violações trabalhistas e ambientais por todo o planeta. Fotos Acervo Justiça nos Trilhos

Por Tatiana Merlino

Peru, 2006 No dia 22 de julho, o líder camponês José Lezma Sánchez é abordado por três homens numa feira do município de Eduardo Villanueva. De maneira violenta, é colocado em uma caminhonete e levado a sua casa, em Campo Alegre. Chegando lá, sua casa é vasculhada. Como não encontram nada, começam a agredi-lo fisicamente e o ameaçam de morte caso insista nas ações “antimineradoras”.

Sánchez era presidente da Frente de Defesa do Meio Ambiente da Bacia do Rio Cajamarquino (Fredemac), que se opunha à instalação, na região de Cajamarca, da mineradora Miski Mayo, subsidiária da transnacional brasileira Vale SA (antiga Companhia Vale do Rio Doce).

Víctor Acosta, também integrante da Fredemac, conta que episódios semelhantes ocorreram com diversas lideranças camponesas que se opuseram à implantação da mineração na área. “Primeiro, tentavam comprar, chantagear. Como não deu certo, partiram para o uso de milícias armadas”, explica.

Acosta conta que os camponeses são contrários “à mineração porque defendem suas águas. Não existe atividade agrícola e pecuária sem água, por isso eles se opõem às atividades extrativas”.

A Miski Mayo instalou-se em Cajamarca em 2004. Três anos depois, a pedido da população local, a Comissão de Gestão Ambiental Sustentável do governo peruano realizou uma visita à região e relatou: “Nossa principal surpresa e indignação foi encontrar gente armada com escopetas e rostos cobertos que faziam a guarda na mina.
As conclusões foram: a empresa Miski Mayo recorreu a ‘quadros de defesa’, contratando, para isso, pessoas com antecedentes criminais. Algo mais preocupante ainda: o grupo de defesa foi provido com armas de fogo”.

Moçambique, 2007 Mil e trezentas pessoas começam a ser removidas da vila de Moatize, no estado do Tete, para a implantação de uma mina de exploração de carvão da Vale Moçambique, que ganhou, no ano anterior, a concessão de 35 mil hectares de terra na região. Segundo Thomas Selemane, da organização moçambicana Movimento dos Amigos da Floresta, as famílias estão sendo deslocadas para uma área de pior qualidade para a prática da agricultura, “e as casas que a Vale está construindo são de baixa qualidade”.

No local do empreendimento, há dois cemitérios, e a empresa já está dando procedimento à exumação dos corpos. “Para as famílias, isso é inconcebível, é uma violação das tradições”. Na fase inicial de implantação já ocorreram três greves “por conta da diferença de tratamento com trabalhadores moçambicanos e estrangeiros”, explica Selemane.

Há, ainda, denúncias de que a empresa oferece, aos trabalhadores, refeições que provocam alergias e dores. A empresa mantém, com muitos dos funcionários, vínculo contratual precário e de curta duração, deixando-os numa situação de constante insegurança.

O contrato de concessão firmado com a Vale em Moçambique é válido por 35 anos, a partir de 2007. Selemane pondera que, apesar de ser um grande projeto, ele é econômica e socialmente pouco rentável. “Gera pouco emprego, não tem projeto de transferência de conhecimento etc. O mais provável é que depois de 35 anos deixe dividendos para seus acionistas e deixe para o resto do povo danos ambientais e todos os buracos que vai fazer naquela área”.

Nova Caledônia, 2006 A Vale Inco empresa resultante da compra, pela Vale, da mineradora canadense Inco, decide construir, na colônia francesa situada no sudoeste do oceano Pacífico, um duto para resíduos da atividade de mineração dentro do mar. A barreira de corais da Nova Caledônia, que circunda o país, é a maior do mundo, formando, também, o maior sistema de lagoas do planeta.

Jacques Boengkih, da organização indígena Agencia Kanak de Desenvolvimento Nova Caledônia (Agence Kanak de Developpement Nouvelle-Caledonie), considera a Vale um novo poder colonial. “Já destruíram uma área grande de floresta tropical, onde há espécies raras. Temos árvores da era dos dinossauros. Não sabemos qual serão os impactos desses resíduos”.

Além dos impactos no meio ambiente, há os sociais, como o surgimento da prostituição, antes desconhecida pelo povo tradicional da Nova Caledônia. “Fora que o país não está ganhando nenhum dinheiro com isso. E não gostamos disso, queremos que eles paguem royalties. Não entendo como eles possam tirar o níquel, vender para a China, e nós não ganharmos nada. Essa é uma nova forma de colonialismo, e é muito estranho, porque o Brasil foi uma colônia”.

Transnacional brasileira
Os casos acima retratam, resumidamente, o modus operandi da transnacional brasileira Vale S.A. após sua privatização, realizada, por meio de um leilão, em abril de 1997. A verdadeira cara da empresa é bem diferente da que ela mesma vende em propagandas de televisão, que a atrela a imagens de famosos, como a atriz Fernanda Montenegro e o fotógrafo Sebastião Salgado.

Uma das maiores transnacionais brasileiras e a maior mineradora do mundo, o grupo empresarial da Vale é composto por, pelo menos, 27 empresas coligadas, controladas ou joint-ventures, distribuídas em mais de 30 países, como Brasil, Angola, Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Indonésia, Moçambique, Nova Caledônia e Peru, onde desenvolve atividades de prospecção e pesquisa mineral, mineração, operações industriais e logística.

Sua forma de atuação não difere da das grandes corporações mundiais, que utilizam a superexploração do trabalho e destruição do meio ambiente para garantir alta lucratividade. “A Vale não é brasileira nem verde e amarela. Isso é propaganda. Ela é uma multinacional como outra qualquer”, diz Ana Garcia, da Fundação Rosa Luxemburgo.

Sandra Quintela, economista e integrante do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs), explica que a Vale não é mais uma empresa nacional, “mas sim uma empresa controlada por seus acionistas. Grande parte deles são bancos e fundos de pensão, capital financeiro. Assim, objetiva capitalizar os seus acionistas e, para isso,
tem aplicado uma política duríssima: de um lado, tirando direitos dos trabalhadores, economizando as despesas de pessoal; de outro, com uma escalada ilimitada de exploração mineral”.

A Companhia Vale do Rio Doce foi fundada em 1942 como uma empresa estatal brasileira. Sua privatização é, até hoje, contestada na Justiça brasileira. Desde então, a empresa obteve lucro total de 49,2 bilhões de dólares, dos quais 13,4 bilhões foram distribuídos aos seus acionistas. Nos últimos dez anos, foi a quarta empresa mais rentável entre as grandes companhias (de acordo com o Boston Consulting Group).

Em janeiro de 2010, seu valor de mercado foi avaliado em 139,2 bilhões de dólares, rendendolhe a 24ª posição entre as maiores companhias do mundo, de acordo com o jornal inglês Financial Times. “Foram 49 bilhões de dólares de lucro para uma empresa que foi privatizada por 3 bilhões. É uma coisa absolutamente escandalosa, um saque ao patrimônio público”, critica Sandra.

Hoje, a Vale é controlada pela sociedade Valepar S.A., que detém 53,3% do capital votante (33,6% do capital total). Em seguida, aparece o governo brasileiro, com 6,8%, e vários investidores que não possuem mais de 5% das cotas.

A Valepar tem a seguinte constituição acionária: o fundo de pensão Previ, que por meio da sociedade Litel Participações S.A., possui 39% das cotas da sociedade; a Bradespar S.A. (sociedade de investidores ligada ao grupo Bradesco) com 21,21%; a empresa siderúrgica japonesa Mitsuib & Co. Ltda com 18.24%; os fundos de pensão brasileiros Petros, Funcef e Fundação Cesp, que, por meio da sociedade Litel Participações S.A., possuem 10% das cotas; e o governo federal, que possui 11.51%. O governo detém, ainda, ações especiais (golden share), que lhe dão poder de veto em determinadas decisões.

Violações às comunidades
Os impactos da expansão resultante da privatização da empresa foram discutidos durante o I Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale, ocorrido no Rio de Janeiro, sede nacional da Vale, entre 12 e 15 de abril. Estiveram presentes cerca de 160 pessoas de 80 organizações e movimentos de todas as regiões do Brasil e de países como Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, Moçambique, Nova Caledônia e Peru.

Durante os quatro dias, os participantes apresentaram os casos de violações às comunidades tradicionais, aos trabalhadores e ao meio ambiente gerados pela mineração. Discutiram, também, estratégias comuns de enfrentamento e resistência à transnacional brasileira. A tônica do encontro foi de estudo e troca de experiências entre os moradores e comunidades afetadas pela mineração no mundo.

Uma preparação para o encontro foi realizada nos dias anteriores. Em 6 de abril, duas caravanas percorreram os estados de Minas Gerais, Pará Maranhão com o objetivo de permitir aos participantes entrar em contato com as realidades dos atingidos pela mineradora.

A primeira saiu de Itabira, cidade onde a empresa nasceu e que sofre com altos índices de poluição decorrentes de sua atuação. A segunda cruzou o Eixo Carajás, onde comunidades convivem com empreendimentos localizados em Barcarena,Marabá e Paraupebas, no Pará, e Açailândia e São Luís, no Maranhão.

No primeiro dia do encontro, os participantes seguiram à Baía de Sepetiba, no Rio, onde a Vale, em sociedade com a ThyssenKrupp, está montando a Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), acusada de causar danos ao meio ambiente e às comunidades
ribeirinhas. A TKCSA irá emitir 273,6 mil toneladas/ano de poluentes, sobretudo monóxido de carbono (229.758 toneladas) e dióxido de enxofre (21.540 toneladas). Há, também, denúncias de que, na região, a empresa esteja atuando com grupos de milícias (paramilitares) que ameaçam aqueles que se opõem ao empreendimento.

Entre os impactos ambientais provocados pela Vale, Guilherme Zagallo, advogado da Campanha Justiça nos Trilhos e vice-presidente da OAB do Maranhão, destacou que a transnacional emitiu, em 2008, 16,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, causando prejuízos à saúde da população. Ele também apontou que “em suas operações, a Vale consumiu 335 milhões de metros cúbicos de água em 2008, sendo responsável pelo derramamento, no ambiente, de 1.562 metros cúbicos de salmoura, álcool, hidrocarbonetos e outros poluentes”. Para se ter uma ideia,
em 2008, a Vale produziu 346 milhões de toneladas de minérios. E em 1997, tal produção foi de 113 milhões de toneladas.

Zagallo denuncia, ainda, a responsabilidade da mineradora em atropelamentos ferroviários. Em 2007, ocorreram 23 mortes; em 2008, houve nove mortes e 2.860 acidentes. “São mortes silenciosas. A única responsabilidade da empresa com isso é a compra de caixões. E, depois, falam que isso faz parte das dores do crescimento”, criticou.

O vice-presidente da OAB do Maranhão lembrou que, além das mortes, o impacto sobre as comunidades que vivem à beira do percurso das ferrovias inclui “atropelamento de animais, ruído, interrupção do tráfego de pessoas e veículos em cruzamentos sem passarelas ou passagens de nível”.

Cinco usinas siderúrgicas
Esse drama é vivido por Edevard Dantas Cardeal e pela comunidade onde vive. Ele é morador do povoado de Piquiá, município de Açailândia, no Maranhão, onde estão em operação, atualmente, cinco usinas siderúrgicas, que produzem, anualmente, 500 mil toneladas de ferro-gusa.

A estrada de ferro passa ao lado do povoado e a BR-222 atravessa a comunidade. Quase toda a produção é exportada para os Estados Unidos, Ásia e Europa. Apenas uma pequena parte é destinada ao distrito industrial do Piquiá. Essa cadeia siderúrgica é alimentada a partir de minérios da Vale, única fornecedora das cinco usinas em funcionamento na região.

Seu Edevard, nascido na Bahia e hoje com 66 anos, diz que vai lutar contra a Vale até quando aguentar. “Pode escrever tudo que eu estou falando, que eu assino embaixo. Sou um grande prejudicado dos empreendimentos”.

O senhor simpático de óculos e barba por fazer conta que vive na região desde 1969. “Tinha um rio, o Piquiá, que a gente usava para lavar roupa e até beber. Depois, a Vale chegou com essas empresas siderúrgicas e poluiu tudo. Tem ainda a estrada de ferro, que passa rente ao nosso povoado”.

Seu Edevard lembra que, antes da chegada da mineração, a comunidade sobrevivia da roça. Agora, não há mais onde plantar. “Tem que andar de 150 a 200 quilômetros para fazer roça. Hoje, a gente vive de respirar pó de ferro de minério e outros resíduos que caem dentro da cidade”. O agricultor conta que possuía uma grande área de terra: “eu tinha ideia de sobreviver ali plantando minhas coisas, mas, com a poluição que veio, perdeu valor e não tem como sair para outro lugar”.

De acordo com o Dossiê dos Impactos e Violações da Vale no Mundo, apresentado no final do encontro no Rio de Janeiro, a extração de madeira nativa para a produção de carvão vegetal a ser utilizada nas siderúrgicas é altamente predatória naquela região e gera muitos agentes poluentes, principalmente monóxido de carbono, com grandes
efeitos sobre a saúde, como doenças respiratórias. “Os problemas relacionados às atividades das guseiras e os conflitos socioambientais na região aumentaram com a exploração da Vale”, aponta o documento.

Segundo seu Edevard, houve um aumento do número de problemas de saúde, como coceira, dores de garganta e alergia na pele das pessoas. Ele relata, também, que a poluição emitida pelas chaminés da siderúrgica, por onde sai pó de minério, pó de carvão vegetal e outros resíduos, “caem dentro do rio e no quintal da gente, em cima das casas, em cima de tudo”. Nas fábricas, não existem filtros antipartículas. Assim, quando os alto-fornos são abastecidos com minério e carvão vegetal triturado e homogeneizado, a fuligem emitida contém resíduos provenientes do aquecimento do minério. Fuligem que cobre os móveis, camas e utensílios de cozinha das casas do povoado, causando doenças respiratórias graves.

Quando a caravana norte passou pela comunidade, Seu Edevard juntou parte do pó que cai no telhado de sua casa. Num gesto simbólico, os participantes colocaram as mãos no pó, e, em seguida “carimbaram” o peito, para mostrar os danos respiratórios causados pela siderurgia. “Sabe como é chiqueiro de porco, cercado por quatro lados? Não é lugar de viver, mas estamos vivendo assim. Por isso a comunidade quer ser indenizada, já entramos com um processo. Chega de tanto sofrer”.

Tatiana Merlino é jornalista.
tatianamerlino@carosamigos.com.br

Para ler a reportagem completa e outras matérias confira a edição de maio da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou clique aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Paulo Nogueira e o macartismo da Folha

Preparando-se para a guerra eleitoral, a mídia demotucano já iniciou a "limpeza ideológica" nas suas redações. Na semana passada, o Grupo Abriu demitiu o editor da National Geographic do Brasil, Felipe Milanez, que criticou no seu twitter as distorções grosseiras da revista Veja. Agora, é a Folha de S.Paulo que dispensa o economista Paulo Nogueira Batista Junior, atual diretor do Brasil no FMI e um dos poucos colunistas que ainda justifica a leitura deste pasquim golpista.

O argumento usado é risível. A famíglia Frias alegou que "sua coluna é das mais longevas", só não explicou porque outros antigos colunistas nunca foram molestados. Paulo Nogueira sempre foi um ácido crítico das políticas neoliberais de desmonte do Estado e da nação. Ele nunca deu tréguas aos tucanos colonizados, com seu "complexo de vira-lata". Na luta de idéias em curso na batalha eleitoral, o economista seria um estorvo para José Serra, o candidato do Grupo Folha.

Relembrando as perseguições de 2006

Para disfarçar a sua política macartista de "caça às bruxas", a Folha anunciou um novo plantel de colunistas, que inclui o Antonio Palocci. Com isso, ela tenta preservar a falsa imagem de "jornal pluralista". Mas, como ironiza o jornalista Paulo Henrique Amorim, a jogada é rasteira. "Antônio Malloci, ex-ministro da Fazenda, como se sabe é um notável tucano que eventualmente milita no PT. Paulo Nogueira Batista Junior era um dos últimos vestígios de talento que a Folha exibia... A Folha, com um novo conjunto de ‘colonistas’, aproxima-se cada vez mais da treva sem fim".

O clima de perseguição ideológica nas redações da mídia "privada" não é novidade. Na sucessão presidencial de 2006, ele também produziu suas vítimas, entre elas o jornalista Rodrigo Vianna, que não aceitou as baixarias da TV Globo na cobertura da campanha. Franklin Martins e Tereza Cruvinel também sentiram o ódio do "senhor das trevas" das Organizações Globo, Ali Kamel. Nos jornais e revistas, a perseguição fascistóide silenciou vários outros jornalistas.

A quem serve a liberdade de expressão?

Como afirma o professor Venício A. de Lima, estes episódios revelam "a hipocrisia geral que envolve as posições públicas dos donos da mídia sobre liberdade de expressão e liberdade de imprensa... As relações de trabalho nas redações brasileiras, é sabido, são hierárquicas e autoritárias. Jornalistas e editores são considerados, pelos patrões, como ocupando ‘cargos de confiança’ e devedores de lealdade incondicional". Caso tentem manter a ética no seu trabalho jornalístico, eles são demitidos sumariamente.

Com a aproximação da eleição presidencial de outubro, o clima tende a se deteriorar ainda mais nas redações, comprovando a falsidade do discurso dos donos da mídia e das suas entidades -como Abert, Aner e ANJ- sobre a "ameaça autoritária" do governo Lula contra a liberdade de imprensa. "Episódios como este nos obrigam a perguntar, uma vez mais, para quem é a liberdade de expressão que a grande mídia defende?", conclui o professor Venício A. de Lima.

A mídia ‘vira-lata’ e o acordo Brasil-Irã

Altamiro Borges *


Adital -


Apesar da bronca recente que levou do irritadiço José Serra, a jornalista Miriam Leitão mantém-se uma seguidora canina das teses demo-tucanas. No programa Espaço Aberto, da Globo News desta quinta-feira (20), ele entrevistou dois "renomados especialistas" sobre o acordo Brasil-Irã: Luiz Felipe Lampreia e Sérgio Amaral. Excitada com as opiniões emitidas, ela só não informou aos ingênuos telespectadores que ambos são tucanos de carteirinha, serviram ao entreguista FHC e hoje viraram as estrelas da TV Globo no combate hidrófobo à política externa do governo Lula.

Ex-porta-voz e ex-ministro de FHC, Sérgio Amaral nem disfarçou o seu ressentimento e inveja. Para ele, o Brasil não deveria se meter nos conflitos na região. Explicitando o seu servilismo, ele tentou desqualificar o "atual protagonismo" do Itamaraty, afirmando que isto pode prejudicar as relações com os EUA. Repetindo os relatórios da CIA, também garantiu que o Irã é uma ameaça à paz mundial - mas não falou uma linha sobre as ogivas e as ações belicistas do governo ianque. Mais "diplomático", Lampreia, outro serviçal de FHC, também ridicularizou o acordo Brasil-Irã.

Sucursais rastaqüeras da mídia dos EUA

Miriam Leitão não é a única a usar os meios de comunicação, inclusive as concessões públicas, para repetir as velhas teses colonizadas. Na prática, a maior parte da mídia nativa mais se parece com uma sucursal rastaqüera da imprensa ianque - e do Departamento do Estado dos EUA. Ela é a expressão acabada do "complexo de vira-lata", ironizado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues. Foi uma entusiasta da política de "alinhamento automático com os EUA", praticado por FHC, e defendeu acriticamente o tratado neocolonial da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

A mídia demotucana sempre foi covarde diante do império e prepotente diante das nações mais sofridas. Ela embarcou com tudo nas 938 mentiras alardeadas pelo presidente-terrorista George W. Bush para justificar a invasão e o genocídio no Iraque, num patriotismo às avessas. Já quando Evo Morales nacionalizou o petróleo da Bolívia, ela exigiu do presidente Lula o rompimento das relações diplomáticas e até o envio de tropas para a fronteira. A mesma arrogância se manifestou quando das negociações sobre Itaipu, num discurso agressivo contra o governo do Paraguai.

Ceticismo, inveja e dor de cotovelo

Esta visão colonizada ficou, mais uma vez, escancarada nas negociações de paz entre Brasil-Irã-Turquia. Num primeiro momento, a mídia apostou no total fracasso da iniciativa. Como relata o professor Dennis de Oliveira, os jornalões conservadores afirmaram que o presidente Lula estaria "perdendo tempo" e "arriscando a credibilidade internacional do país". A Folha estampou em sua manchete que "Irã dá ao Brasil um polêmico protagonismo", num artigo carregado de ceticismo. O Estadão também menosprezou as negociações, prognosticando seu insucesso.

Já quando o acordo foi assinado, a mídia, ainda meio desnorteada, procurou desqualificá-lo. Em nenhum momento, ela enfatizou que os termos do acordo são os mesmos propostos pelo próprio Conselho de Segurança da ONU. O que antes ela defendia, agora se opõe - numa típica postura ideologizada contra o governo Lula. "A aposta no fracasso deu lugar ao ceticismo com misto de inveja e dor de cotovelo", constata Dennis de Oliveira. Na sua oposição ao acordo, o Estadão usou até as declarações infelizes da candidata Marina Silva, que se prestou ao trabalho sujo.

Repercussão mundial omitida

No seu complexo de vira-lata, a mídia colonizada nem sequer repercutiu análises mais isentas da imprensa mundial. O jornal francês Le Monde, por exemplo, elogiou o Brasil e destacou que "o Sul emergente já aparecera antes, em cena que provocou frisson e alarido no palco internacional, em domínios do meio ambiente e comércio. Essa semana, inaugura nova etapa, importante sinal de quanto aumenta o poder desses países. Ei-los ativos em terreno que, até agora, permanecia quase monopólio das tradicionais ‘grandes potências’: a proliferação nuclear no Oriente Médio".

Já o jornal britânico The Guardian realçou que o acordo "marca o nascimento de uma nova força altamente promissora no cenário internacional: a parceria Brasil-Turquia... O que se viu foi que negociadores competentes em negociações bem encaminhadas por dois líderes mundiais destruíram a versão, difundida por Washington, de que o Irã não faria acordos e teria de ser ‘atacado’". Miriam Leitão, Sérgio Amaral, Lampreia, FHC e o presidenciável Serra devem morrer de inveja diante de tantos elogios, que a mídia nativa omite. Podem até cortar os pulsos!