Célula Vermelha

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"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira!" CHE

Mobilização na Paulista

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Integrantes da Célula na mobilização da Paulista

Mobilização na Av. Paulista

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Cerca de 40 mil professores da rede Estadual de ensino tomaram à Av. Paulista nesta sexta dia 12/03/2010

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A guerra do fim do mundo

Três trabalhadores rurais foram assassinados no dia 15.10.2008 em emboscada preparada por pistoleiros e, segundo fortes indícios, a mando de grileiros de terras da região da Fazenda Capivara, Monte Santo, Bahia. Os trabalhadores se deslocavam a pé da Fazenda Capivara em direção ao Assentamento Santa Luzia da Bela Vista onde estava ocorrendo uma reunião com servidores do Incra, cujo objetivo era realizar um cadastramento para a construção de cisternas. Os trabalhadores tinham 48, 24 e 23 anos, e se chamavam Tiago, Luiz e Josimar, respectivamente. Os dois jovens foram mortos primeiro e seus corpos escondidos na caatinga. Tiago, que vinha caminhando sozinho, teve seu corpo deixado na estrada. Os sepultamentos aconteceram ontem.
São essas as informações que temos no momento. A delegacia agrária, a delegacia local, o Incra e o CDA já têm ciência do ocorrido.
O clima na cidade e na zona rural é de tensão. Os/as trabalhadores/as rurais estão assustados/as e apreensivos/as, pois temem novos atentados, inclusive contra as assessorias técnicas e mobilizadores/as locais.
Por favor, divulguem este e-mail, pois do ano passado até o presente momento, computam-se 6 assassinatos de trabalhadores rurais por aqui, por conta dos conflitos fundiários envolvendo grileiros e posseiros.

Tatiana E. Dias Gomes e João Alexandrino de Macedo Neto,
Advogados
tatianadiasgomes@hotmail.com

Diesel de cana-de-açúcar será produzido no Brasil

O mesmo caldo de cana que serve como matéria-prima para a produção de açúcar e álcool servirá em breve para a produção de diesel. A nova tecnologia, desenvolvida pela empresa Amyris, da Califórnia, vai ser colocada em prática no interior paulista em 2010, em sociedade com a Votorantim Novos Negócios (VNN) e a Usina Santa Elisa, de Sertãozinho. A meta é produzir 400 milhões de litros no primeiro ano e 1 bilhão de litros em 2012.
O processo é muito parecido com o da produção de álcool combustível, que utiliza leveduras - um tipo de fungo microscópico - para fermentar os açúcares presentes na cana e secretar etanol. A diferença crucial - que foi a grande inovação produzida pela Amyris - está no DNA da levedura, que foi geneticamente modificado para secretar diesel no lugar de álcool
"Não é biodiesel. É diesel mesmo", diz o biólogo Fernando Reinach, diretor-executivo da VNN, fundo de investimento de risco do grupo Votorantim, que financiou parte da pesquisa. O resultado da fermentação é uma molécula chamada farneceno, com 12 átomos de carbono, que tem todas as propriedades essenciais do diesel de petróleo, mas nenhuma das indesejadas, como a mistura de enxofre - um poluente altamente prejudicial à saúde.

Enquanto o diesel de petróleo - e mesmo o biodiesel de óleos vegetais - contém uma mistura de várias moléculas combustíveis, o diesel de cana tem apenas o farneceno, que pode ser usado diretamente no motor. "É um combustível super puro", disse o diretor-executivo da Amyris, o português John Melo, que esteve em São Paulo hoje (14) para anunciar o projeto.

O diesel de petróleo é o mais poluente dos combustíveis fósseis. Já o diesel de cana-de-açúcar, além de ser livre de enxofre, o que reduz o impacto sobre a poluição urbana, é renovável em relação ao carbono que emite para a atmosfera, o que reduz o impacto sobre o aquecimento global. A exemplo do que já ocorre com o etanol, o CO2 que sai do escapamento é reabsorvido, via fotossíntese, pela nova cana que está brotando no campo. Quando a cana é colhida, o carbono é convertido novamente em combustível, reemitido, reabsorvido e assim por diante.
A cana não tem óleo, ela apenas fornece o açúcar necessário para alimentar as leveduras que vão produzir o combustível. É um processo completamente diferente do usado para produção de biodiesel, que é um combustível refinado de óleos vegetais, como de soja e mamona.
Segundo Reinach, foram necessários mais de 15 genes para transformar a levedura em uma "fábrica biológica" de diesel. A espécie usada no processo é a mesma da fermentação do álcool (Saccharomyces cerevisiae), mas a origem dos novos genes é mantida em segredo até que as patentes sejam publicadas.
Potencial
A idéia, a princípio, é que o diesel de cana entre no mercado como um adicional ao diesel de petróleo, e não como um concorrente, já que a produção inicial será muito pequena. O Brasil consome cerca de 45 bilhões de litros de diesel, dos quais 5 bilhões precisam ser importados. "Se acabarmos com a importação já será um enorme sucesso", avalia Melo, que antes de assumir a Amyris foi presidente nos Estados Unidos da BP Fuels.
A tecnologia foi desenvolvida nos laboratórios da Amyris na Califórnia. Mas o desenvolvimento do produto final será feito no Brasil, com a participação de cientistas brasileiros contratados pela empresa. A Amyris já tem um laboratório em Campinas - acoplado a uma usina piloto - e planeja construir uma planta industrial junto à usina Santa Elisa, onde será feita a produção de diesel em larga escala.
O interesse da empresa em trazer a tecnologia para o Brasil é simples: "Nossa matéria-prima é o carbono, e o carbono mais barato do mundo é o carbono de cana do Brasil", explica Melo. "É igual à cadeia do petróleo. As empresas vão onde está o óleo. Nesse caso, elas virão para onde está o carbono vegetal", completa Reinach. A idéia é que a produção aumente e ganhe mercado gradativamente, com um custo igual ou inferior ao do diesel de petróleo. O custo inicial previsto é de US$ 60 o barril, já bastante competitivo.
As adaptações necessárias nas usinas para produzir diesel em vez de etanol são mínimas. De certo modo, basta trocar a levedura no fermentador. Dentro de alguns anos, prevê Reinach, os usineiros poderão optar por produzir o que for mais vantajoso - álcool, diesel ou açúcar -, com grande flexibilidade.
O diesel de cana surge como mais uma opção no menu de energias renováveis que o mundo procura para substituir os combustíveis fósseis (derivados de petróleo), que são os principais responsáveis pelo aquecimento global. A cana já oferece duas dessas opções: o álcool combustível e o bagaço, que é queimado para produção de energia elétrica. Agora, serão três (etanol, diesel e biomassa), com potencial para chegar a quatro, cinco, ou até seis. Segundo Reinach, com as mesmas técnicas de engenharia molecular, é possível "ensinar" a levedura a produzir quase qualquer tipo de molécula.
A Amyris já está desenvolvendo combustível de aviação para a Força Aérea Norte-americana e, depois do diesel, tem planos de produzir gasolina - tudo a partir da fermentação de açúcar da cana.
Agência Estado - 14/10/2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ultimas Palavras de um "Grande Camarada".

Últimas Palavras à Nação(1*)
Salvador Allende Gossens


11 de setembro de 1973
Fonte: CECAC - Centro Cultural Antônio Carlos de Carvalho.Tradução: M. H. HTML: Fernando A. S. Araújo, Junho 2008.
Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.
Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores:
Não vou renunciar!
Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.
Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.
Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças.
Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista.
Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.
Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino.
Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se.
Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile!
Viva o povo!
Viva os trabalhadores!
Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição.
Notas:
(1*) Discurso do Presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado que derrubou o governo da Unidade Popular e implantou a sanguinária ditadura militar comandada pelo general Pinochet. O Palácio presidencial foi bombardeado pelos militares e Allende morreu de armas na mão resistindo ao golpe.

Este texto foi uma contribuição do Centro Cultural Antonio Carlos Carvalho

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Karl Marx manda lembranças

O que vemos não é erro; mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas .

AS ECONOMIAS modernas criaram um novo conceito de riqueza. Não se trata mais de dispor de valores de uso, mas de ampliar abstrações numéricas. Busca-se obter mais quantidade do mesmo, indefinidamente. A isso os economistas chamam "comportamento racional". Dizem coisas complicadas, pois a defesa de uma estupidez exige alguma sofisticação.

Quem refletiu mais profundamente sobre essa grande transformação foi Karl Marx. Em meados do século 19, ele destacou três tendências da sociedade que então desabrochava: (a) ela seria compelida a aumentar incessantemente a massa de mercadorias, fosse pela maior capacidade de produzi-las, fosse pela transformação de mais bens, materiais ou simbólicos, em mercadoria; no limite, tudo seria transformado em mercadoria; (b) ela seria compelida a ampliar o espaço geográfico inserido no circuito mercantil, de modo que mais riquezas e mais populações dele participassem; no limite, esse espaço seria todo o planeta; (c) ela seria compelida a inventar sempre novos bens e novas necessidades; como as "necessidades do estômago" são poucas, esses novos bens e necessidades seriam, cada vez mais, bens e necessidades voltados à fantasia, que é ilimitada. Para aumentar a potência produtiva e expandir o espaço da acumulação, essa sociedade realizaria uma revolução técnica incessante. Para incluir o máximo de populações no processo mercantil, formaria um sistema-mundo. Para criar o homem portador daquelas novas necessidades em expansão, alteraria profundamente a cultura e as formas de sociabilidade. Nenhum obstáculo externo a deteria.

Havia, porém, obstáculos internos, que seriam, sucessivamente, superados e repostos. Pois, para valorizar-se, o capital precisa abandonar a sua forma preferencial, de riqueza abstrata, e passar pela produção, organizando o trabalho e encarnando-se transitoriamente em coisas e valores de uso. Só assim pode ressurgir ampliado, fechando o circuito. É um processo demorado e cheio de riscos. Muito melhor é acumular capital sem retirá-lo da condição de riqueza abstrata, fazendo o próprio dinheiro render mais dinheiro. Marx denominou D - D" essa forma de acumulação e viu que ela teria peso crescente. À medida que passasse a predominar, a instabilidade seria maior, pois a valorização sem trabalho é fictícia. E o potencial civilizatório do sistema começaria a esgotar-se: ao repudiar o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, o impulso à acumulação não mais seria um agente organizador da sociedade.
Se não conseguisse se libertar dessa engrenagem, a humanidade correria sérios riscos, pois sua potência técnica estaria muito mais desenvolvida, mas desconectada de fins humanos. Dependendo de quais forças sociais predominassem, essa potência técnica expandida poderia ser colocada a serviço da civilização (abolindo-se os trabalhos cansativos, mecânicos e alienados, difundindo-se as atividades da cultura e do espírito) ou da barbárie (com o desemprego e a intensificação de conflitos). Maior o poder criativo, maior o poder destrutivo.
O que estamos vendo não é erro nem acidente. Ao vencer os adversários, o sistema pôde buscar a sua forma mais pura, mais plena e mais essencial, com ampla predominância da acumulação D - D". Abandonou as mediações de que necessitava no período anterior, quando contestações, internas e externas, o amarravam. Libertou-se. Floresceu. Os resultados estão aí. Mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas. Karl Marx manda lembranças.

CESAR BENJAMIN, 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Enquanto houver um explorado e um oprimido não haverá paz

"O fascismo israelense está vivo e esperneia. Cresce no mesmo canteiro que já gerou vários grupos religiosos-nacionalistas clandestinos: o grupo que tentou explodir os locais sagrados para os muçulmanos, no Monte do Templo; os que tentaram assassinar prefeitos palestinos, a gang “Kach”; os autores do massacre em Hebron; Baruch Goldstein, assassino do ativista pela paz Emil Gruenzweig; o assassino de Yitzhak Rabin; e todos os grupos clandestinos que foram descobertos em estágio inicial de organização, antes de chegarem ao conhecimento público".

"O sistema de justiça interno do Exército de Israel é monstruoso: não se pode dizer menos. O comandante que deteve uma mulher palestina em trabalho de parto e com sangramento, num posto de fronteira, causando a morte do bebê, recebeu, como pena, duas semanas de detenção. O comandante que ordenou que um soldado atirasse na perna de um palestino algemado foi “transferido” – o que significa que esse criminoso de guerra pode continuar servindo em outra unidade do Exército".

O fascismo? Pode, sim, acontecer em Israel.*

Uri Avnery

O SOBRENOME ALEMÃO Sternhell significa “brilhante como as estrelas”. É nome adequado: as posições do Professor Ze'ev Sternhell destacam-se, brilhantes, contra a escuridão do céu. Sempre denunciou o fascismo israelense. Essa semana, os fascistas israelenses jogaram uma bomba de fabricação caseira (um cano selado, com pregos e explosivos) na entrada de seu apartamento, e ele sofreu ferimentos leves.

À primeira vista, a escolha da vítima parece estranha. Mas os autores do atentado sabiam o que faziam.

Não atacaram os ativistas que, todas as semanas, fazem manifestações contra o Muro da Separação em Bilin e Naalin. Não atacaram os grupos de esquerda que, ano após ano – e em 2008 também – mobilizam-se para ajudar os palestinenses a colher suas azeitonas nos pontos mais perigosos, nas vilas mais próximas das colônias israelenses. Não atacaram as “Mulheres de preto” que se reúnem todas as 6ªs-feiras, nem as mulheres do movimento “Machsom Watch” que vigiam os postos de controle, para registrar e denunciar as violências praticadas por soldados israelenses. Atacaram alguém que só faz trabalho intelectual.

As lutas de campo são essenciais. Mas elas só visam influenciar a opinião pública. A principal batalha é a batalha de idéias. E é aí que os intelectuais têm papel tão importante a desempenhar.

No plano das idéias, há duas visões em confronto, em Israel, dois modos de ver, tão distantes um do outro quanto o Oriente é distante do Ocidente. Por um lado, há uma Israel culta, moderna, secular, liberal e democrática, que vive em paz e em parceria com a Palestina, vendo-a como parte integrante e integral da Região. Por outro lado, há uma Israel fanática, religiosa, fascista, que se auto-exclui, tanto quanto se auto-exclui da humanidade civilizada, gente que “duela sozinha e não será reconhecida entre as nações” (Números, 23:9), onde a “espada devorará para sempre” (2, Samuel 2:26).

Ze'ev Sternhell é um dos guias mais brilhantes da visão mais iluminada, mais lúcida. Suas posições brilham como estrelas, resolutas e incisivas. Não surpreende que tenha sido escolhido como alvo para os neo-nazistas que há em Israel e suas bombas neo-nazistas.

Sternhell é intelectual especialista nas origens do fascismo, um tema ao qual também me dedico, ao longo de toda a minha vida. Ele e eu somos movidos por interesses semelhantes: o nazismo deixou marca indelével na nossa infância e no nosso destino. Criança, testemunhei o nascimento do nazismo na Alemanha. Criança, Sternhell viu o nazismo nascer na Polônia, quando, depois da morte do pai, perdeu a mãe e a irmã no Holocausto.

“Quem conhece água fervente, tem medo até de água fria”, diz um velho provérbio judeu. Quem tenha conhecido o fascismo atacar a própria vida, na infância, é e para sempre será excepcionalmente sensível ao primeiro sintoma de recaída da mesma doença. Em 1961 escrevi um livro com o título de “A suástica” (que só existe em hebraico), no qual tentei decifrar o código das raízes do nazismo. Ao final do livro, pergunto: “Poderá acontecer em Israel?” Minha resposta bem clara: Sim, pode. Pode acontecer em Israel.

Sou sensível a qualquer sinal daquela doença na nossa sociedade israelense atual. Como jornalista e editor de uma revista, usei minha lanterna para iluminar melhor cada sinal que vi ou pressenti. Como ativista político, combato-os todos os dias, seja no Parlamento seja nas ruas.

Sternhell, por sua vez, depois de uma carreira militar, passou a dedicar-se integralmente à vida acadêmica. E usa os instrumentos da academia: pesquisa, aulas e publicações. Luta para encontrar as melhores definições, as mais precisas, sem buscar popularidade e fugindo às provocações. Em um de seus artigos, há anos, escreveu que a resposta violenta dos palestinenses contra a ocupação é resposta esperável, natural. Por isso, atraiu sobre si a eterna ira dos moradores das colônias e da extrema direita, que trabalharam muito para impedir que Sternhell recebesse o “Prêmio Israel” – a mais importante láurea que há entre nós.

Agora, recorreram às bombas de fabricação caseira.

QUEM PÔS lá aquela bomba? Um único indivíduo? Um grupo? Algum novo grupo clandestino? Os terroristas das colônias? Cabe à Polícia e ao Shin-Bet descobrir.

Do ponto de vista do público, o assunto é mais simples: vê-se facilmente em que canteiro florescem essas sementes daninhas, que ideologia lhes serve de adubo, e quem as semeia por aí.

O fascismo israelense está vivo e esperneia. Cresce no mesmo canteiro que já gerou vários grupos religiosos-nacionalistas clandestinos: o grupo que tentou explodir os locais sagrados para os muçulmanos, no Monte do Templo; os que tentaram assassinar prefeitos palestinenses, a gang “Kach”; os autores do massacre em Hebron; Baruch Goldstein, assassino do ativista pela paz Emil Gruenzweig; o assassino de Yitzhak Rabin; e todos os grupos clandestinos que foram descobertos em estágio inicial de organização, antes de chegarem ao conhecimento público.

São ações que não podem ser atribuídas a indivíduos ou a rogue groups, a rebeldes ou a “grupos do mal”. Há, bem evidente, uma franja fascista na sociedade política em Israel. Em termos ideológicos, são nacionalistas religiosos; têm líderes espirituais, “rabinos” que formulam essa específica visão de mundo e seu respectivo modo de agir. Esses judeus não trabalham em segredo. Ao contrário, oferecem seus serviços na feira, no mercado.

O setor está concentrado nas colônias ‘ideologizadas’. Não significa que todos os colonos judeus sejam fascistas. Mas quase todos os fascistas são colonos judeus. Concentram-se em colônias bem conhecidas. Por acaso ou não por acaso, todas essas colônias ideologizadas estão situadas no coração da Cisjordânia, nas cercanias do Muro de Separação. A primeira delas, na área de Hebron, foi instalada pelo líder ‘esquerdista’ Yigal Allon; outra, próxima de Náblus, pelo líder ‘esquerdista’ Shimon Peres.

DURANTE os últimos meses, aumentou muitíssimo o número de incidentes nos quais colonos atacam soldados, policiais e ‘esquerdistas’ palestinenses.

São atos cometidos abertamente, para aterrorizar e intimidar. Colonos vandalizam as vilas palestinas cujas terras cobiçam ou invadem; ou agem por vingança.

São pogroms no sentido clássico da palavra: atos de vandalismo, executados por grupos armados, intoxicados de ódio contra população civil desarmada; e o exército e a polícia apenas observam. Os Pogromchiks destroem, ferem e matam. Nos últimos tempos, tem acontecido cada vez mais freqüentemente.

Nos raros casos em que o exército ou a polícia intervêm, não tomam conhecimento da ação dos colonos; atacam os ativistas israelenses dos grupos pró-paz que acorrem para ajudar os agricultores palestinenses agredidos. O porta-voz dos serviços de segurança de Israel e os comentaristas que ainda tentam aparentar alguma isenção falam de “agitadores da Esquerda e da Direita”. Nada mais falso que essa aparente isenção – a qual, ela também, é parte do arsenal de truques que os fascistas sempre usaram.

Os pogroms organizados pelos colonos judeus são violentos por sua própria natureza, tanto na intenção quanto na ação; e os ativistas do campo da paz são não-violentos por princípio. Sempre que há violência, começa nos movimentos do exército e da polícia de fronteira, sob o pretexto de que, antes, foram agredidos por meninos locais que lhes atiraram pedras. O que ninguém diz é que soldados e policiais de fronteira, super-armados e super-blindados, perseguem os manifestantes pelas ruas e vielas das cidades.

A violência e a agressividade dos musculosos militantes da extrema direita – “ativistas da Direita”, como a mídia insiste em dizer, com cortesia máxima – estão aumentando dia a dia. Fazem o que querem, quando querem, porque sabem perfeitamente que nada e ninguém os punirá. Sabem que a polícia mantém-se distante e não interfere; e sabem também que, ainda que a polícia interfira, os tribunais não os condenarão a qualquer tipo de pena mais severa.

TODOS que conheçam a história do nazismo conhecem bem o vergonhoso papel que tiveram os tribunais e demais agentes da lei, na República de Weimar, em relação aos criminosos cujo único objetivo era atacar o próprio sistema democrático. Os agitadores nazistas recebiam penas leves, porque os juízes os declaravam “patriotas equivocados”; e os agitadores comunistas eram tratados como agentes e espiões estrangeiros.

Atualmente, Israel está vivendo o mesmo fenômeno. Os colonos israelenses que infringem a lei recebem condenações simbólicas; os palestinos, mesmo quando acusados por infrações muito mais leves, recebem penas duríssimas. Hoje, um colono que atice seus cães contra um comandante de batalhão é absolvido; exatamente como acontece, também, mesmo que ele quebre os ossos de um chefe de destacamento.

O sistema de justiça interno do Exército de Israel é monstruoso: não se pode dizer menos. O comandante que deteve uma mulher palestina em trabalho de parto e com sangramento, num posto de fronteira, causando a morte do bebê, recebeu, como pena, duas semanas de detenção. O comandante que ordenou que um soldado atirasse na perna de um palestino algemado foi “transferido” – o que significa que esse criminoso de guerra pode continuar servindo em outra unidade do Exército.

O aumento no número e na gravidade de incidentes desse tipo prova que está aumentando o poder do fascismo israelense? À primeira vista, sim, pode-se ter essa impressão.

Mas, se se pensa melhor, creio que a verdade é o contrário disso.

Os colonos fanáticos sabem que perderam o apoio da opinião pública em Israel, e que os cidadãos comuns os vêem como bandidos perigosos. Seus movimentos, expostos pela televisão, são criticadas, muitas vezes com indignação e horror. A visão do “Tudo por Israel” não apenas perdeu altitude. Pode-se dizer que já se esborrachou no chão da realidade. Os zelotes[1] agem como agem porque estão fracos e frustrados.

Como os nazistas odiavam a República alemã, assim esses fanáticos estão começando a odiar o Estado de Israel. E têm boas razões. Estão vendo que não há lugar para eles no consenso nacional que vai ganhando corpo em torno da idéia de “Dois Estados para dois povos” – seja por razões negativas, como os medos demográficos que nascem da ocupação; seja quando prospera por razões positivas: pela esperança de alcançarmos paz e prosperidade, depois de Israel retirar-se dos Territórios Ocupados.

Prossegue a discussão sobre as fronteiras, mas a maioria já vê o Muro de Separação como a fronteira futura. (Como sempre repetimos, desde o início, o muro não foi construído, de fato, para impedir a aproximação de homens-bomba, como dizem as autoridades israelenses; foi construído para demarcar a futura fronteira entre os dois Estados).

O establishment israelense deseja anexar as terras que ficam entre o muro e a Linha Verde; e está preparado para oferecer terras de Israel aos palestinenses, em troca. Como os colonos interpretam essa evidência?

A maioria dos colonos vivem em colônias próximas da Linha Verde que, por esse conceito, serão anexadas a Israel. Esses colonos, não por acaso, são colonos ‘não-ideológicos’, que buscam apartamentos baratos e “qualidade de vida”, em área próxima de Telavive ou Jerusalém. Esses colonos aceitarão, muito provavelmente, qualquer acordo de paz que os mantenha em território de Israel.

Os colonos extremistas, os que são motivados por idéias fascistas-religiosas, vivem em pequenas colônias a leste do muro, que serão desmanteladas tão logo a paz seja assinada. São pequena minoria, mesmo entre os colonos, apoiados por uma minoria radical da extrema direita. Aí, exatamente, é que está vicejando o violento fascismo israelense.

Era uma vez… mas, sim, já houve tempo em que uma Linha Vermelha corria paralela à Linha Verde; quando se pensava que o terrorismo religioso-nacionalista feriria ‘apenas’ os palestinos e não atingiria israelenses. Até o rabino Meir Kahane, fascista nato, dizia isso.

Essa ilusão desmanchou-se no ar, com o assassinato de Yitzhak Rabin. Então se viu que o fascismo israelense é igual ao fascismo clássico, que troveja contra “o inimigo estrangeiro”, mas dirige seu terrorismo contra “o inimigo interno”.

A bomba de fabricação caseira que explodiu à porta da casa de Sternhell deve fazer acender todas as luzes vermelhas, porque se soma ao assassinato de Emil Gruenzweig e às ameaças à vida de outros conhecidos ativistas da paz.

A batalha decisiva, a batalha pela sobrevivência de Israel, está entrando em nova fase – muito mais violenta, muito mais perigosa. Mas mais grave que o perigo que ameaça as pessoas é o perigo que ameaça toda a sociedade israelense. Sobretudo se não mobilizar todos os seus recursos – governo, polícia, Serviço de Segurança, lei, tribunais, a mídia e o sistema educacional – para enfrentar esse perigo.

Não creio que o fascismo derrotará a sociedade israelense. Creio na força da democracia em Israel. Mas se eu for encurralado e me perguntarem: “Pode acontecer em Israel?”, serei obrigado a responder: “Sim, o fascismo pode acontecer em Israel.”