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Mobilização na Paulista

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sábado, 14 de maio de 2011

A revolução pela paz começa em nós mesmos

10 de maio de 2011 às 17:02h

Satiagraha está longe de ser apenas o nome da operação desencadeada pela Polícia Federal, em 2004, contra a roubalheira de dinheiro público comandada por políticos, empresários e funcionários públicos. A palavra designa também o princípio da não-agressão e da revolução pela paz, preconizado pelo líder espiritual indiano Mahatma Gandhi, conhecido como Satyagraha (com “y”, em sânscrito).

Concebido inicialmente como um movimento pacífico de resistência da nação indiana à opressão do império britânico, na primeira metade do século XX, o termo passou a inspirar os ativistas da não violência, em todos os cantos do planeta.

Engana-se quem pensa, porém, que Gandhi cunhou o termo na intenção de sacralizar o povo indiano e demonizar o inglês. A revolução que propunha incluía todos e se assentava em uma mudança radical dos paradigmas morais dos próprios oprimidos, tanto quanto dos opressores. “A única revolução possível é dentro de nós”, dizia.

Mais de oitenta anos após sua criação, este conceito nunca esteve tão atual como no Brasil de maio de 2011, que se ocupa de infindáveis discussões sobre a eficácia da Campanha do Desarmamento, lançada no Rio de Janeiro pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no último dia 6.

Há um evidente, e grave, equívoco no modo como este debate tem sido fomentado, sobretudo pela grande mídia. Como de costume, parte expressiva dos veículos de comunicação de massa discutem este tema complexo de maneira quase sempre superficial e ingênua, quando não parcial e preconceituosa.

Atingem este primor do mau jornalismo aplicando uma grossa camada de verniz paternalista ao assunto, atribuindo unicamente às autoridades públicas a responsabilidade pela solução do problema e classificando de inútil ou demagógica qualquer tentativa de pacificar o povo por meio de campanhas educativas de massa.

Não dizem, porém, o que mais se espera deles: a verdade. É óbvio que o Estado é o principal gladiador na arena na qual se trava o combate à violência. Mas não é o único.

Este flagelo social só será reduzido a níveis toleráveis se houver um permamente e profundo envolvimento da sociedade, de três formas distintas: na denúncia impiedosa dos criminosos à Justiça, na criação de mecanismos coletivos de fiscalização e controle (a polícia comunitária, por exemplo) e, acima de tudo, no rompimento radical com a cultura da violência que invade mentes e corações de boa parte dos cidadãos.

Disto decorre que não são apenas os criminosos os arautos da criminalidade. São também todos aqueles que coadunam ou praticam atos de violência, nas suas mais variadas expressões. Acreditar que o locus da violência são apenas as favelas e presídios é pura expressão de preconceito. Seu habitat é o tecido social. E seu núcleo está dentro dos lares de muitos de nós.

Há muita coisa em comum entre os autores dos 50.113 homicídios que ocorreram em 2008 (último dado oficial do Ministério da Justiça) e os irresponsáveis que matam suas vítimas no trânsito – nada menos que 42 mil cidadãos, anualmente, segundo o portal SOS Estradas. Gênero de violência que também chamamos de imprudência.

Não é diferente o que ocorre com os marginais travestidos de torcedores de futebol que matam amantes do esporte, estupidamente, dentro e fora dos estádios. Gênero de violência que também chamamos de vandalismo.

Idem em relação aos canalhas da latinha que, sem compromisso nenhum com o desenvolvimento sócio-cultural deste País, veiculam programas de rádio e TV calcados no “mundocanismo” apenas para ganhar dinheiro às custas da miséria humana. Gênero de violência que também chamamos de sensacionalismo.

O mesmo raciocínio se aplica, ainda, aos que torturam ou matam animais em nome da ciência (nos laboratórios), da diversão (nos rodeios), do progresso (nas florestas) ou da ambição (nos canis, gatis, pet shops e aviários de produção em massa). Gênero de violência que também chamamos de crueldade.

Imprudência, vandalismo, sensacionalismo e crueldade são facetas diferentes de um mesmo prisma a nos provar que a violência, tal qual a paz, pode estar dentro de cada um de nós. Assim como o gentleman Dr. Jekyll e o psicopata Mr. Hyde, personagens em conflito que se fundem no mesmo ser no clássico “O Médico e o Monstro”, livro de ficção científica publicado em 1886, pelo escocês Robert Louis Stevenson.

Como diria Gandhi na sua pregação em defesa da aplicação do Satyagraha, a revolução pela paz tem que começar dentro de cada um de nós, porque assim como todas as formas de violência, é em nós que pode estar sua origem. O resto é puro exercício de retórica.

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