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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Atílio Boron: O que Obama poderia fazer em Honduras

Diante do impasse que se registra em Honduras, são muitas as vozes que se levantam para denunciar as fraquezas da resposta da Casa Branca frente ao golpe de Estado, que oscila entre um reconhecimento verbal de Manuel Zelaya como o único presidente legítimo e, contraditoriamente, a subreptícia convalidação do golpe, ao encomendar a um obediente porta-voz do império, Oscar Arias, que atue como "mediador" no conflito.

Por Atílio A. Boron*, em seu site.




A esta altura, é evidente que a categórica condenação do golpe formulada pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, rompeu uma deplorável tradição dessa organização e, seguramente por isso mesmo, provocou que Washington o tirasse rapidamente dessa cena substituindo-o pelo dócil presidente costa-riquenho.

Diante dessas críticas, os defensores de Obama dizem que os Estados Unidos não podem fazer mais do que estão fazendo, e que uma intervenção militar para repor o presidente constitucional em seu cargo seria absolutamente inaceitável. Ao apresentar as coisas nesses termos, a Casa Branca lava as mãos e favorece, mesmo que de modo indireto, a postura dos golpistas.

O problema de Obama é que, se os Estados Unidos persistirem nessa atitude e o golpe conseguir se consolidar, toda a sua retórica de um "novo começo" nas relações hemisféricas ficaria irreparavelmente danificada, e as ilusões que sua eleição alimentou se dissipariam para sempre, e não apenas na América Latina.

Além disso, a consolidação dos golpistas demonstraria que o ocupante da Casa Branca não controla o aparato estatal norte-americano, e que seus supostos subordinados, sobretudo na CIA e no Pentágono, podem sustentar uma política que contraria expressamente as diretivas do presidente, sem que isso lhes cause algum problema.

Não é preciso argumentar muito para compreender a gravidade dessa situação: se na superpotência do sistema imperialista surgem dúvidas sobre a supremacia da Casa Branca sobre suas Forças Armadas e os serviços de inteligência, o resultado não pode ser outro que uma intensificação da anarquia do sistema internacional e a proliferação de múltiplas formas de violência.

Se for excluída a "carta militar" (que, por outra parte, ninguém aceitaria na região), isso significa que Obama não tem mais alternativa do que prosseguir navegando na ambiguidade?

Nada disso: ele tem outras alternativas à sua disposição, muitíssimo mais efetivas do que uma "mediação" de Oscar Arias. Aproveitando a longa experiência adquirida durante quase meio século de bloqueio criminoso a Cuba, Washington poderia tomar algumas medidas parecidas, que provocariam a imediata derrubada dos gorilas hondurenhos.

Por exemplo, poderia colocar em prática o que George W. Bush ameaçou fazer nas vésperas da eleição presidencial de 2004, em El Salvador, quando Chafik Handal encabeçava comodamente as preferências eleitorais: impedir as remessas dos imigrantes salvadorenhos ao seu país de origem e advertir as empresas norte-americanas a preparar um plano de contingência para abandonar o país no caso de um triunfo do candidato do FMLN. Bastou que se fizesse esse anúncio para que o pânico se apoderasse da população e o candidato da conservadora Arena arrasasse nas urnas.

Se a Casa Branca fizesse o mesmo e começasse sem mais dilações a entorpecer burocraticamente as remessas dos imigrantes hondurenhos aos Estados Unidos e a advertir suas empresas que devem elaborar planos de rápida saída de Honduras, Micheletti e seu grupo durariam o que dura um suspiro.

Se outras medidas fossem acrescentadas a isso, como a retirada do embaixador norte-americano em Tegucigalpa; a suspensão, mesmo que temporária, das atividades da Força Tarefa Conjunto Bravo que os Estados Unidos mantêm na Base Aérea Coronel Soto Cano; a efetiva interrupção de toda forma de ajuda econômica ou militar e, por último, uma mensagem da Casa Branca aos seus sócios europeus pedindo-lhes que se solidarizem com essas medidas, os dias dos golpistas estariam contados.

Mas Obama terá a valentia necessária para estimular essa alternativa? Ou ele já está resignado a ser um simples adorno da aliança reacionária que teve sua época de glória durante os anos de George W. Bush?

*Atílio A. Boron é secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e professor de Teoria Política na Universidade de Buenos Aires.

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